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São Paulo, domingo, 13 de abril de 2003

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Sarney insiste em dividir trâmite de propostas

VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

RAYMUNDO COSTA
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Congresso, José Sarney (PMDB-AP), ainda não abandonou o projeto de começar a tramitação da reforma tributária pelo Senado. Ele e o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), que têm posições divergentes sobre o tema, concordaram com uma trégua para retomar o assunto quando assentar a poeira da polêmica.
"Temos problemas demais no momento", diz Sarney. No Senado, a idéia de receber em primeiro lugar a reforma tributária é consensual. Além de acelerar as reformas -a da Previdência começaria a tramitar concomitantemente pela Câmara-, a experiência de duas dezenas de ex-governadores na Casa poderia ser decisiva na hora de dirimir conflitos.
Apesar do ceticismo de muitos congressistas, Sarney acredita que as duas reformas podem ser aprovadas ainda neste ano. Ele pessoalmente está disposto a jogar o peso de seu prestígio na empreitada. E no apoio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem apoiou já no primeiro turno das eleições de 2002. No comando do Congresso, o apoio de Sarney, que teve a ajuda de Lula para se eleger, é decisivo para aprovação das reformas.
Valendo-se da experiência de quem já sentou por cinco anos (85-90) na cadeira hoje ocupada por Lula, Sarney julga precipitadas as críticas feitas sobretudo ao desempenho da área social do governo: "É preciso ter consciência de que o governo está começando. E as críticas servem de motor para que as coisas aconteçam". No momento em que a oposição se articula para combater o governo no Congresso, ele adverte: "É engano achar que a popularidade do Lula vai erodir. Ele é carismático e tem uma trajetória bem-sucedida". E faz um vaticínio: "Na eleição de 2006, não vejo ninguém que possa disputar com ele".
Para Sarney, os ocupantes do Planalto desde a redemocratização até agora, inclusive ele próprio, foram lideranças "ocasionais". Este não seria o caso de Lula, que, no ponto de vista do presidente do Congresso, representa o fim de um "ciclo republicano", que se completa com a chegada de um operário ao poder.
O presidente do Senado acredita que as novas lideranças surgirão a partir de Lula. "A história não volta. É um processo social. Revolução social. Foi por isso que apoiei o Lula. Eu estava entendendo esse processo. Pensei: por que vamos represar essas forças todas? Isso significa otimismo."
"O Brasil entrou num caminho extraordinário de sua história."
No entendimento de Sarney, a oposição ainda não entendeu claramente esse processo: "Eles estão perplexos. Não sabem o que ocorreu. Ninguém acreditava que o Lula iria ganhar a eleição".
Para Sarney, Lula "atenua as tensões sociais". Uma espécie de colchão amortecedor. "Essas reuniões que ele faz têm resultado: as pessoas que vão se sentem prestigiadas e co-responsáveis. Hoje a ameaça que pesa sobre nós é a situação internacional", diz, referindo-se à guerra do Iraque.


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