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Mulher brasileira pode evitar expulsão
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro interino da Justiça,
Luiz Paulo Barreto, cancelou o
visto do correspondente do "New
York Times" Larry Rohter com
base no artigo 26 do Estatuto do
Estrangeiro, uma lei ainda do período da ditadura militar, de 1980,
que trata da situação jurídica de
estrangeiros no Brasil.
Uma hipótese de cancelamento
do visto prevista nesse artigo é "a
inconveniência de sua presença
[do estrangeiro] no território nacional, a critério do Ministério da
Justiça". O artigo também estabelece que "o impedimento de qualquer dos integrantes da família
poderá se estender a todo o grupo
familiar". Para valer no caso do
jornalista americano, a família dele também teria de ser estrangeira.
O objetivo desse trecho é assegurar que a família continue unida.
O fato de o correspondente do
"NYT" ser casado com uma brasileira poderá favorecer a obtenção,
na Justiça, de autorização para ele
continuar no país, apesar do cancelamento de seu visto de estrangeiro pelo Ministério da Justiça.
Um ministro do STF (Supremo
Tribunal Federal) afirmou, em caráter reservado, que a mulher de
Rohter poderá argumentar dupla
residência. Já que ela vive no momento em Miami, diria que mora
temporariamente na cidade americana, mas pretende retornar em
breve ao seu país. Essa situação,
em tese, também facilita a permanência do jornalista no Brasil.
Sendo brasileira, segundo esse
ministro, a mulher do correspondente terá o direito de entrar em
território nacional quando quiser.
Essa condição será extensiva às
duas filhas do casal, se elas tiverem nascido nos EUA, mas possuírem dupla nacionalidade.
O senador Sérgio Cabral
(PMDB-RJ) entrou ontem com
habeas corpus a favor de Rohter
no STJ (Superior Tribunal de Justiça), mas não explora a situação
familiar do jornalista. O argumento usado é que a decisão do
governo fere o princípio constitucional da liberdade de expressão.
O procurador-geral da República, Claudio Fonteles, defendeu o
cancelamento do visto de Rohter,
dizendo que a medida não foi
"desequilibrada", porque a reportagem do jornalista teria ofendido
não só a honra do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, mas o país.
O presidente interino do STF,
Nelson Jobim, e outros ministros
recusaram-se a dar declarações
sobre o caso. Reservadamente, no
entanto, três deles disseram que a
atitude do governo foi abusiva,
porque feriu o princípio constitucional da liberdade de expressão.
O presidente da OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil), Roberto Busato, disse que a decisão de
cancelar o visto do jornalista do
"NYT" corresponde a uma tentativa de mordaça da imprensa.
Colaborou SILVANA DE FREITAS, da
Sucursal de Brasília
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