São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 2005

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Decisão não surpreende mercado

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O anúncio do STF (Supremo Tribunal Federal) de abrir uma investigação contra o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, suspeito de crime contra o sistema financeiro, crime eleitoral e evasão de divisas, não causou surpresa no mercado financeiro.
"Já contávamos com isso. Surpresa seria se não viesse o pedido de investigação", disse Luis Fernando Lopes, economista-chefe do Banco Pátria.
No mercado, a decisão do STF causou efeito apenas marginal. O Ibovespa, principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo, teve queda de 2,35%, mas, segundo os analistas, a maior parte da queda é atribuída ao cenário externo. O dólar subiu 0,4% também por causa do cenário externo.
A percepção dos analistas ouvidos pela Folha é que hoje já há um descolamento entre a figura de Meirelles e a condução -e manutenção- da política monetária do Brasil, o que faz com que investidores não se assustem com a decisão do STF.
Esse tipo de imbróglio com o presidente do BC, dizem, não tem potencial para causar turbulências, como a fuga de investidores ou grandes abalos no risco-país brasileiro. Os analistas argumentam que os demais indicadores da economia e, sobretudo, as indicações oferecidas pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, são os fatores mais importantes.
"Já está claro para nós o que está acontecendo na economia: controle de gastos e políticas fiscais consistentes são decisões do governo como um todo e não apenas de Meirelles ou do Banco Central", afirmou Alexandre Lintz, estrategista-chefe do banco BNP Paribas.
Há também um certo descrédito com relação a possíveis descobertas de irregularidades ao longo da investigação. "Meirelles já foi investigado anteriormente nos EUA, que têm um sistema rígido, e nada foi encontrado", diz Lopes.
"A princípio, não acredito que sejam feitas grandes revelações nesse caso", declarou Lintz.
O mercado parece preparado até mesmo para uma saída de Meirelles do comando do BC. "Não tenho preocupação nesse sentido. Além disso, o governo não teria problemas em encontrar um bom substituto para o cargo", afirmou Lintz.
De forma ainda bastante discreta, o nome de Murilo Portugal, indicado para a secretaria executiva do Ministério da Fazenda, já circula como uma boa opção para substituir Meirelles.
A agência americana de risco Moody's recentemente recomendou em seu relatório mensal que seus investidores ficassem atentos à manutenção do status de ministro do presidente do Banco Central do Brasil.


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