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EXECUTIVO X LEGISLATIVO
Veto a reajuste de servidores do Congresso leva presidente do Senado a atacar ministro do Planejamento
Renan vê no governo capacidade de gerar crise
DA SUCURSAL DO RIO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O veto do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva ao reajuste salarial
de 15% para os funcionários do
Congresso e do TCU causou uma
revolta no Legislativo e levou o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a engrossar o
coro de críticas contra o Palácio
do Planalto. Renan, que é aliado
de Lula, disse que o Executivo
"tem uma capacidade incrível de
criar crises, sobretudo na relação
entre os Poderes".
Renan atacou também o porta-voz do anúncio do veto, o ministro Paulo Bernardo (Planejamento). "Paulo Bernardo não sabe o
que acontece, falou besteira", afirmou, em referência à justificativa
dada pelo ministro para barrar o
aumento: falta de previsão orçamentária. "O Senado tem caixa,
não é preciso suplementar nada."
O veto a três projetos evitará o
reajuste de salários de cerca de
34.700 funcionários da Câmara,
do Senado e do TCU (Tribunal de
Contas da União).
Sob o argumento de que o aumento daria munição para que
outras categorias, como a dos militares, exigissem correções salariais e causassem um "gasto cascata" de R$ 11 bilhões, o governo
barrou a medida e prometeu estudar um plano de carreira para os
funcionários da Câmara. Mas não
apresentou proposta alternativa
ao Senado e ao TCU, que já possuem planos de carreira e pagam
aos seus funcionários salários
maiores que os da Câmara.
O menor salário no Congresso é
de R$ 517,50. O maior não é revelado, já que há possibilidade de
incorporações salariais durante
toda a carreira. A média fica em
torno de R$ 8.000.
Irritado, Renan fez ainda a
ameaça velada de promover a
derrubada do veto. Para isso, é necessário o apoio de 257 dos 513
deputados e de 41 dos 81 senadores, em sessão do Congresso. "O
Executivo tem direito a veto, como o Legislativo tem direito de
votar e vai exercer na plenitude
esse direito", afirmou, exaltado.
A fala de Renan contrastou com
a atitude do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE).
O deputado disse considerar difícil a derrubada do veto. "É difícil
derrubar o veto. Mas os funcionários da Câmara vão ter o que eles
desejam", afirmou, se referindo
ao plano de carreira.
Apesar disso, integrantes da
Mesa da Câmara vão propor ao
Senado a convocação imediata de
uma sessão do Congresso para
analisar o veto.
Contas
De acordo com políticos ouvidos, o plano de carreira em discussão na Câmara pode sair mais
caro do que o reajuste de 15%. Severino e líderes na Câmara reúnem-se com Lula na quarta-feira
para, entre outras coisas, tratar do
assunto.
O líder do governo no Senado,
Aloizio Mercadante (PT-SP), ensaiou um mea-culpa pelo fato de a
base governista também ter dado
votos para aprovar o aumento
-mesmo sem recursos no Orçamento- e afirmou que pesou no
veto o fato de os servidores do Legislativo constituírem uma "elite"
do serviço público.
Embora não haja recursos previstos no Orçamento da União
para o reajuste, o sindicato dos
servidores foi para o ataque e realizou assembléias no TCU e na
Câmara. "Hoje o clima entre os líderes partidários é de derrubada
total do veto", afirmou no microfone Ezequiel Nascimento, presidente do sindicato.
O Congresso e o TCU têm um
orçamento total previsto para este
ano de R$ 5,680 bilhões. O gasto
extra com o reajuste de 15% seria
de R$ 570 milhões. Com o veto, a
verba dos deputados para pagamento de assessores (reajustada
recentemente em 25%) ficará em
R$ 44.187.
(RAFAEL CARIELLO, FÁBIO ZANINI E RANIER BRAGON)
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