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MÍDIA E RELIGIÃO
Advogado diz que vai contestar o pedido do procurador-geral
Fonteles pede a quebra de sigilo da Igreja Universal
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, pediu ao
STF (Supremo Tribunal Federal)
a quebra do sigilo fiscal da Igreja
Universal do Reino de Deus no inquérito que investiga o suposto
envolvimento da instituição com
duas empresas sediadas em paraísos fiscais, Cableinvest e Investholding, que financiaram a compra da TV Record do Rio de Janeiro, em 1992, e a de outras emissoras ligadas à igreja.
A investigação começou em
1999, depois que a Folha revelou
que as duas empresas bancavam
investimentos da Universal e que
haviam remetido pelo menos US$
18 milhões para o país, entre 1992
e 1994. O dinheiro entrou via Uruguai, onde os dólares foram trocados por moeda brasileira.
O senador Marcelo Crivella (PL-RJ), sobrinho do bispo Edir Macedo, e o deputado federal João Batista Ramos (PFL-SP), ambos integrantes da igreja, são investigados no inquérito, que passou para
o STF depois que Crivella foi eleito para o Senado em 2002.
Ele é investigado em razão da
suspeita, na época, de que seria vice-presidente de uma das empresas no exterior, a Investholding,
registrada nas Ilhas Cayman, paraíso fiscal do Caribe.
Crivella depôs sobre o caso na
Polícia Federal do Rio de Janeiro,
há cerca de dois meses, e negou
envolvimento com a empresa. Segundo seu advogado, Arthur Lavigne, ele depôs como testemunha e disse desconhecer os proprietários da empresa.
O bispo Edir Macedo, fundador
da Universal, também já depôs
sobre o caso na Polícia Federal.
Segundo Lavigne, ele prestou depoimento há um mês, em Brasília,
também na condição de testemunha, e afirmou não ter conhecimento sobre os fatos.
O inquérito policial foi aberto
em São Paulo, em agosto de 1999,
a pedido do ex-procurador-geral
da República Geraldo Brindeiro e,
como houve quebra de sigilo fiscal de parte dos envolvidos, a investigação corre em segredo de
Justiça há vários anos.
O caso passou para a alçada do
STF em fevereiro de 2003, e o ministro Carlos Velloso é seu relator.
O inquérito no STF visa apurar
crime contra o Sistema Financeiro Nacional e de evasão de divisas.
O advogado Arthur Lavigne disse que a quebra do sigilo fiscal da
Igreja Universal já havia sido pedida pela Polícia Federal e rejeitada pela Justiça.
O procurador-geral da República enviou parecer ao ministro Velloso, no último dia 5, reiterando o
pedido. Segundo Fonteles, a providência é fundamental para a
conclusão das investigações.
Lavigne declarou que contestará o pedido. ""O objeto da investigação são os contratos de financiamento da compra da TV Record pelas empresas Cableinvest e
Investholding, e não a Igreja Universal", afirmou.
Empréstimos
A TV Record do Rio, canal 13,
foi adquirida em nome de seis
membros da Universal, que freqüentavam o templo do bairro da
Abolição, na zona norte, e não tinham patrimônio para comprar
sequer uma rádio.
A emissora pertencia ao bispo
Nilson do Amaral Fanini, da Primeira Igreja Batista de Niterói
(RJ), e ao empresário e ex-deputado federal Múcio Athayde. A venda foi efetivada em fevereiro de
1992, por US$ 20 milhões, para
pagamento em 15 parcelas. Para
cada promissória, os compradores assinaram um contrato de empréstimo de valor equivalente
com a Investholding ou com a Cableinvest, para pagamento em
cinco anos.
Dois dos seis membros da igreja
que assinaram a compra da TV
Record do Rio morreram, e a propriedade da emissora já está em
nome de outros membros da
Igreja Universal.
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