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São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2003

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CASO CC-5

Gustavo Franco permitiu que cinco bancos em Foz do Iguaçu enviassem dinheiro ao exterior sem avisar as autoridades

Delegado responsabiliza ex-presidente do BC

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O delegado da Polícia Federal Antônio Carlos de Carvalho acusou ontem o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco de ser o responsável por viabilizar operações de lavagem de dinheiro de US$ 30 bilhões, entre 1996 e 1999, utilizando a agência do Banestado em Nova York.
"A culpa pela evasão de divisas é do próprio BC. O presidente [do BC em 1996] Gustavo Franco autorizou, sem submeter à diretoria do órgão, a movimentação superior a R$ 10 mil [por meio de contas CC-5, destinadas a operações de não-residentes no país]", afirmou Carvalho, ontem, em depoimento à Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara.
Carvalho presidiu o inquérito do caso Banestado de julho de 2002 a março de 2003. Hoje, atua como consultor da força-tarefa constituída em Curitiba para comandar as investigações.
Em 1996, por determinação de Franco, fez-se uma exceção à circular do BC que obrigava as instituições financeiras a lhe informarem a ocorrência de operações em CC-5 superiores a R$ 10 mil.
O despacho garantiu a cinco bancos de Foz do Iguaçu -Banestado, Araucária, Bemge, Real e Banco do Brasil- o direito de fazer operações via CC-5 superiores a R$ 10 mil sem registrá-las no BC.
Em agosto do ano passado, a PF instaurou inquérito para apurar suposto envolvimento de Franco e do ex-diretor do BC José Maria de Carvalho em "gestão fraudulenta, evasão de divisas e omissão na prática de ofício".

Políticos
Os representantes da PF revelaram que nas movimentações já mapeadas há pelo menos seis políticos, um ex-caixa de campanhas políticas e um ex-funcionário da Prefeitura de São Paulo, além de artistas conhecidos.
"Se tudo isso for verdade, vai ser cadeia para todo mundo", disse Alberto Fraga (PMDB-DF), relator do grupo que, na comissão, investiga lavagem de dinheiro.
Devem depor na próxima terça-feira os procuradores Alexandre Porciúncula (Foz do Iguaçu), José Francisco Bezerra de Carvalho (Curitiba), Luiz Francisco de Souza (Brasília), que acompanham o caso Banestado, e o delegado Maurício Valeixo, que hoje preside o inquérito.
A deputada Iriny Lopes (PT-ES) apresentou requerimento para que Gustavo Franco deponha na comissão. O policiais estavam claramente divididos. O delegado Castilho Neto e o perito Renato Barbosa, que hoje estão cedidos ao Ministério Público Federal em Brasília, foram duramente criticados por Carvalho e pelo perito Eurico Montenegro.
No MPF, Castilho e Barbosa trabalham com os procuradores de Brasília numa força-tarefa federal que está apurando informações sobre os beneficiários finais do dinheiro. Formalmente, no entanto, estão fora do caso.


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