São Paulo, terça-feira, 13 de julho de 2004

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QUESTÃO AGRÁRIA

Presidente diz a agricultores que prioriza quem já tem terra

Lula afirma que número de assentados não o preocupa

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao falar para uma platéia de agricultores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que sua prioridade é investir na qualidade dos assentamentos e que não está "tão preocupado" com a quantidade de famílias assentadas. O discurso ocorreu no 1º Encontro Nacional de Agricultores Familiares, num momento em que o governo deixa de cumprir metas da reforma agrária, inclusive a que se refere ao número de assentados.
"Eu confesso a vocês que eu não estou tão preocupado se vão ser 1 milhão ou 500 mil [assentados]. Obviamente que eu gostaria de assentar 3 milhões, 5 milhões, 10 milhões. Mas, ao mesmo tempo que vamos assentando famílias, precisamos nos preocupar com quem já tem a terra, que está lá com a sua família na terra."
A declaração foi dada em discurso improvisado no Parque da Cidade, em Brasília, para cerca de 1.500 agricultores, de 22 Estados, ligados à Fetraf (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar), filiada à CUT (Central Única dos Trabalhadores). Em 2001, Lula participou da fundação da Fetraf, em Chapecó (SC).
No ano passado, Lula, também em discurso, prometeu assentar 60 mil famílias, mas 36 mil foram beneficiadas, de acordo com números oficiais. No primeiro semestre deste ano, a meta era assentar 47 mil famílias, mas 22 mil foram beneficiadas -até dezembro, a meta é de 115 mil famílias.
Outra meta que não foi cumprida em 2003: segundo o governo, 10,5 mil famílias tiveram acesso à terra por meio de programas de crédito fundiário entre janeiro de 2003 e junho de 2004. A meta de 2003 era de 15 mil famílias. E a de 2004, de 37,5 mil famílias.
A idéia de Lula não coincide com as reivindicações do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que pressiona o governo por desapropriações em massa. Mas condiz com a linha da programação do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que busca vincular a imagem do ministro Miguel Rossetto aos números da agricultura familiar.
Aliados históricos desde meados dos anos 80, Lula e o MST, além do próprio PT, têm tido discussões justamente sobre as metas e os números reais de famílias assentadas. Por um lado, o governo não cumpre suas metas de reforma agrária. Por outro, líderes do MST criticam abertamente a lentidão do governo.
Ontem, o presidente ainda divulgou números diferentes do novo PNRA (Plano Nacional de Reforma Agrária), lançado por ele em novembro de 2003. Inflou a meta de assentamentos e diminuiu a de posses regularizadas.
"E nós viemos aqui [em 2003] para conversar com muita franqueza com os trabalhadores e dizer para eles: assumimos um compromisso de assentar 430 mil famílias e, ao mesmo tempo, regularizar mais 130 [mil] propriedades, ou seja, reconhecer o título de terra." Porém, até 2006, o PNRA prevê o assentamento de 400 mil famílias e a regularização de posses para outras 500 mil.

No rádio
O Bolsa-Família foi um dos temas tratados ontem por Lula na entrevista ao programa quinzenal "Café com o Presidente". Ele disse que vai trabalhar muito, "24 horas por dia, de domingo a domingo", para que, até o final deste ano, 6,5 milhões de famílias estejam recebendo o programa. Para Lula, o trabalho árduo é preciso porque ele "tem que dar o exemplo".
Para cumprir a promessa, o governo terá que incluir mais de 2 milhões de famílias no programa, que hoje atende a 4,1 milhões. O Bolsa-Família é o principal programa de transferência de renda da gestão Lula. O benefício varia de R$ 15 a R$ 95, segundo a renda per capita e o número de filhos.


Colaborou a Redação

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