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QUESTÃO AGRÁRIA
Presidente diz a agricultores que prioriza quem já tem terra
Lula afirma que número de assentados não o preocupa
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao falar para uma platéia de
agricultores, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva disse que sua
prioridade é investir na qualidade
dos assentamentos e que não está
"tão preocupado" com a quantidade de famílias assentadas. O
discurso ocorreu no 1º Encontro
Nacional de Agricultores Familiares, num momento em que o governo deixa de cumprir metas da
reforma agrária, inclusive a que se
refere ao número de assentados.
"Eu confesso a vocês que eu não
estou tão preocupado se vão ser 1
milhão ou 500 mil [assentados].
Obviamente que eu gostaria de
assentar 3 milhões, 5 milhões, 10
milhões. Mas, ao mesmo tempo
que vamos assentando famílias,
precisamos nos preocupar com
quem já tem a terra, que está lá
com a sua família na terra."
A declaração foi dada em discurso improvisado no Parque da
Cidade, em Brasília, para cerca de
1.500 agricultores, de 22 Estados,
ligados à Fetraf (Federação dos
Trabalhadores na Agricultura Familiar), filiada à CUT (Central
Única dos Trabalhadores). Em
2001, Lula participou da fundação
da Fetraf, em Chapecó (SC).
No ano passado, Lula, também
em discurso, prometeu assentar
60 mil famílias, mas 36 mil foram
beneficiadas, de acordo com números oficiais. No primeiro semestre deste ano, a meta era assentar 47 mil famílias, mas 22 mil
foram beneficiadas -até dezembro, a meta é de 115 mil famílias.
Outra meta que não foi cumprida em 2003: segundo o governo,
10,5 mil famílias tiveram acesso à
terra por meio de programas de
crédito fundiário entre janeiro de
2003 e junho de 2004. A meta de
2003 era de 15 mil famílias. E a de
2004, de 37,5 mil famílias.
A idéia de Lula não coincide
com as reivindicações do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra), que pressiona
o governo por desapropriações
em massa. Mas condiz com a linha da programação do Ministério do Desenvolvimento Agrário,
que busca vincular a imagem do
ministro Miguel Rossetto aos números da agricultura familiar.
Aliados históricos desde meados dos anos 80, Lula e o MST,
além do próprio PT, têm tido discussões justamente sobre as metas e os números reais de famílias
assentadas. Por um lado, o governo não cumpre suas metas de reforma agrária. Por outro, líderes
do MST criticam abertamente a
lentidão do governo.
Ontem, o presidente ainda divulgou números diferentes do novo PNRA (Plano Nacional de Reforma Agrária), lançado por ele
em novembro de 2003. Inflou a
meta de assentamentos e diminuiu a de posses regularizadas.
"E nós viemos aqui [em 2003]
para conversar com muita franqueza com os trabalhadores e dizer para eles: assumimos um
compromisso de assentar 430 mil
famílias e, ao mesmo tempo, regularizar mais 130 [mil] propriedades, ou seja, reconhecer o título
de terra." Porém, até 2006, o
PNRA prevê o assentamento de
400 mil famílias e a regularização
de posses para outras 500 mil.
No rádio
O Bolsa-Família foi um dos temas tratados ontem por Lula na
entrevista ao programa quinzenal
"Café com o Presidente". Ele disse
que vai trabalhar muito, "24 horas
por dia, de domingo a domingo",
para que, até o final deste ano, 6,5
milhões de famílias estejam recebendo o programa. Para Lula, o
trabalho árduo é preciso porque
ele "tem que dar o exemplo".
Para cumprir a promessa, o governo terá que incluir mais de 2
milhões de famílias no programa,
que hoje atende a 4,1 milhões. O
Bolsa-Família é o principal programa de transferência de renda
da gestão Lula. O benefício varia
de R$ 15 a R$ 95, segundo a renda
per capita e o número de filhos.
Colaborou a Redação
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