São Paulo, quarta-feira, 13 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/REFORMA

Na semana passada, Lula havia feito declaração pública de apoio ao ministro e afirmado que ele só sairia do governo se quisesse

Gushiken diz ter sugerido mudança de status

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dos principais conselheiros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva até aqui, Luiz Gushiken perdeu ontem não apenas o status de ministro da Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica como também a vaga cativa na reunião de coordenação política do governo.
Gushiken mantém a função de chefiar a comunicação e definir as contas de publicidade do governo, mas como secretário e subordinado à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Sob suspeita de favorecimento de seus ex-sócios numa empresa de consultoria, Gushiken nem mesmo participou da reunião ministerial de ontem. Estava em São Paulo e dali viajou ao Rio de Janeiro. Na versão dos que são próximos a ele, Gushiken acertou toda a sua mudança de status no governo numa reunião a dois com Lula, na semana passada.
Em nota divulgada ontem, Gushiken afirma que partiram dele as sugestões de tornar a Secom uma secretaria de outro ministério e de tirar o status de ministro de seu dirigente. Ele teria sugerido ainda que o presidente ampliasse a coordenação de governo.
Há, entretanto, a desconfiança de que a decisão tenha sido unilateral de Lula, que na reunião ministerial de ontem comunicou que a Secom (Secretaria de Comunicação) passaria a ser subordinada à Casa Civil, sem fazer nenhum elogio nem mesmo menção ao velho amigo Gushiken.
Na sexta-feira, ao dar posse aos três novos ministros do PMDB, Lula fora enfático ao dizer que Gushiken seria mantido no cargo.
Com o esvaziamento do poder de Gushiken no governo, Lula perde mais uma ponta do seu tripé político inicial, formado por José Dirceu na Casa Civil, Gushiken cuidando da publicidade e Antonio Palocci Filho na Fazenda. Dirceu voltou à Câmara como deputado, e Gushiken perde espaço. A tendência é a de que deixe o governo no médio prazo.
Resta Palocci e emergem na cena política o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, cada vez mais ouvido por Lula, e o ministro Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), que passa a acumular a coordenação política.
Gushiken tinha um papel de moderador nas crises internas e era considerado o conselheiro "zen" do presidente. Sua perda de prestígio corresponde a denúncias de que, no atual governo, houve aumento do faturamento da empresa Globalprev, que pertence a seus ex-sócios e funciona na casa de um parente seu. Além disso, há denúncias de que a revista de um cunhado do ministro vinha sendo favorecida em cotas de publicidade oficial.
Na nota de ontem, Gushiken fala ainda de medidas que atingem a área de comunicação do governo. A primeira que ele tomou foi encaminhar às rádios e ao Congresso Nacional a discussão de uma "proposta de flexibilização" da "Voz do Brasil", programa transmitido em rede nacional e obrigatório. O projeto deve fazer com que o horário de retransmissão do programa -que hoje ocorre diariamente às 19h- fique a cargo da emissora.
A terceira medida parece ser relacionada às denúncias de favorecimento que atingem o ministro. Ele solicitou à CGU (Controladoria Geral da União) a indicação de um corregedor para controle interno da Secom. (ELIANE CANTANHÊDE, VALDO CRUZ e ANA FLOR)

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