São Paulo, quarta-feira, 13 de julho de 2005

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BÊNÇÃO DIVINA

Deputado afirma que não vai recorrer da decisão da Executiva, mas espera que partido reveja sua posição

PFL expulsa deputado das malas de dinheiro

SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

Para conter danos à imagem do partido, a Executiva Nacional do PFL decidiu ontem, por unanimidade, cancelar a filiação do deputado João Batista Ramos da Silva (SP), o que implica sua expulsão da sigla. O deputado, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, foi surpreendido pela Polícia Federal com R$ 10,2 milhões em malas num jatinho dentro do hangar da TAM em Brasília.
O deputado argumenta que o dinheiro é fruto do dízimo recolhido dos fiéis e que fora autorizado pela direção da igreja a carregar o montante para São Paulo. Ele viajaria em um avião da igreja, com outras seis pessoas, mas o vôo foi abortado pela Polícia Federal após denúncia anônima.
Após ouvir o deputado, anteontem, a PF decidiu encaminhar o caso ao STF (Supremo Tribunal Federal), que decidirá sobre a instauração de inquérito para apurar se foram praticados os crimes de lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. Até a conclusão desta edição, no entanto, a PF não havia enviado o caso ao tribunal.
O dinheiro foi apreendido e ontem a PF o encaminhou para o Banco Central. Vinte homens da Polícia Federal e quatro carros fizeram a escolta do dinheiro.
Um grupo de advogados que defendem a igreja tentam recuperar os valores por meio de um mandado de segurança no STF.
Reunida ontem em caráter emergencial, a Executiva pefelista optou pela saída do deputado, que pode recorrer à Convenção Nacional do partido. Ele afirmou que não vai recorrer, mas que espera que o PFL recue da punição. Na resolução, a Executiva diz que João Batista "contrariou princípios básicos inerentes à atividade parlamentar e partidária".
"Não temos nenhuma razão em querer que nossos filiados pertençam a essa ou àquela igreja. Cada um escolhe a sua própria religião, mas implica que, na atividade parlamentar, a atividade religiosa não venha a criar conflitos com aquilo que pensa o partido", disse o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC): "Assumimos nosso dever no que diz respeito ao ponto de vista político, já que o ponto de vista legal e moral foi assumido pela Universal".
A votação contra o deputado foi unânime (21 votos), mas durante a reunião o senador Edison Lobão (MA) e a deputada Laura Carneiro (RJ) -que não integra a Executiva- defenderam uma reação mais branda. O interlocutor de João Batista com a Executiva pefelista foi o vice-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Argumentaram que o impacto da desfiliação do deputado em relação aos fiéis da igreja seria negativo ao PFL.
"Não acho que o majoritário da igreja vota tão controlado assim. A igreja pode até radicalizar em relação ao partido, o que espero que não ocorra, mas não podemos deixar de tomar a decisão correta", disse o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ).


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