São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 2009

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Analista defende novo foco ao Bolsa Família

Para o professor Anthony Hall, da LSE, programa não cumprirá contrapartidas na educação e na saúde se atuar só no curto prazo

Especialista em programa de transferência de renda diz que redução da pobreza foi atingida e novo alvo deveria ser gerar empregos


PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo federal confirmou, há duas semanas, que vai elevar ainda neste ano os pagamentos do Bolsa Família, principal programa social do governo Lula e um de seus maiores trunfos eleitorais. Especialista em programas de transferência de renda, o professor Anthony Hall, da LSE (London School of Economics and Political Science), diz que o Bolsa Família corre um sério risco: o foco de curto prazo na distribuição de dinheiro pode prejudicar o investimento de longo prazo em saúde e educação.

 

FOLHA - O programa cumpriu seus objetivos?
ANTONHY HALL
- Seu objetivo imediato, obviamente, é amenizar a pobreza, e as avaliações iniciais indicam que o programa foi bastante bem-sucedido. Outro objetivo é acumular capital humano, fazendo os pagamentos condicionais a educação e saúde. E, nisso, o cenário é menos certo no momento. No campo educacional, as matrículas aumentaram, mas isso não necessariamente significa que a qualidade melhorou. Os resultados são melhores na saúde, em campanhas de vacinação e outras frentes.

FOLHA - E o que poderia ser feito?
HALL
- O próximo estágio desse tipo de programa é estabelecer uma ligação clara com geração de emprego. Isso também depende da macroeconomia.

FOLHA - Mas é possível avaliar se o programa cumpre esse aspecto?
HALL
- A avaliação tem de acompanhar o progresso dos beneficiários do Bolsa Família cinco, seis anos depois que deixaram a escola, para checar se há correlação entre ter participado do programa e uma melhor posição no mercado. Mas as principais forças do programa no momento, francamente, são políticas. Lula não fez segredo de que sua popularidade é, em larga medida, consequência do Bolsa Família.

FOLHA - E que críticas o senhor faz?
HALL
- Essa certa ênfase em transferências de dinheiro, no curto prazo, é um "remendo". Não quer dizer que não funcione, mas devemos ser cautelosos. O que pode haver também é uma mudança na mentalidade dos políticos e planejadores, tentação de "curto-prazismo", de pensar que a transferência de dinheiro seja um modo rápido e popular de entregar os bens e pegar os votos, em vez de investir em saúde e educação pelos próximos dez anos. Não estou dizendo que está acontecendo, mas é um perigo real.

FOLHA - Se o programa for bem-sucedido, está destinado a acabar um dia. Já aconteceu em algum lugar?
HALL
- Em teoria, sim. Mas nunca aconteceu. É um poço sem fundo, porque sempre haverá novos objetivos. E isso é bom. O perigo é permanecer de curto-prazo e clientelista.

FOLHA - Quanto tempo? Décadas?
HALL
- Sim. Qualquer político que ousar dizer "eu não gosto do Bolsa Família" acabou de cometer suicídio político.O conceito básico está aqui para ficar por um longo tempo.


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