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Analista defende novo foco ao Bolsa Família
Para o professor Anthony Hall, da LSE, programa não cumprirá contrapartidas na educação e na saúde se atuar só no curto prazo
Especialista em programa de transferência de renda diz que redução da pobreza foi atingida e novo alvo deveria ser gerar empregos
PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo federal confirmou, há duas semanas, que vai
elevar ainda neste ano os pagamentos do Bolsa Família, principal programa social do governo Lula e um de seus maiores
trunfos eleitorais. Especialista
em programas de transferência
de renda, o professor Anthony
Hall, da LSE (London School of
Economics and Political Science), diz que o Bolsa Família corre um sério risco: o foco de curto prazo na distribuição de dinheiro pode prejudicar o investimento de longo prazo em saúde e educação.
FOLHA - O programa cumpriu seus
objetivos?
ANTONHY HALL - Seu objetivo
imediato, obviamente, é amenizar a pobreza, e as avaliações
iniciais indicam que o programa foi bastante bem-sucedido.
Outro objetivo é acumular
capital humano, fazendo os pagamentos condicionais a educação e saúde. E, nisso, o cenário é menos certo no momento.
No campo educacional, as matrículas aumentaram, mas isso
não necessariamente significa
que a qualidade melhorou. Os
resultados são melhores na
saúde, em campanhas de vacinação e outras frentes.
FOLHA - E o que poderia ser feito?
HALL - O próximo estágio desse
tipo de programa é estabelecer
uma ligação clara com geração
de emprego. Isso também depende da macroeconomia.
FOLHA - Mas é possível avaliar se o
programa cumpre esse aspecto?
HALL - A avaliação tem de
acompanhar o progresso dos
beneficiários do Bolsa Família
cinco, seis anos depois que deixaram a escola, para checar se
há correlação entre ter participado do programa e uma melhor posição no mercado.
Mas as principais forças do
programa no momento, francamente, são políticas. Lula não
fez segredo de que sua popularidade é, em larga medida, consequência do Bolsa Família.
FOLHA - E que críticas o senhor faz?
HALL - Essa certa ênfase em
transferências de dinheiro, no
curto prazo, é um "remendo".
Não quer dizer que não funcione, mas devemos ser cautelosos. O que pode haver também
é uma mudança na mentalidade dos políticos e planejadores,
tentação de "curto-prazismo",
de pensar que a transferência
de dinheiro seja um modo rápido e popular de entregar os
bens e pegar os votos, em vez de
investir em saúde e educação
pelos próximos dez anos. Não
estou dizendo que está acontecendo, mas é um perigo real.
FOLHA - Se o programa for bem-sucedido, está destinado a acabar um
dia. Já aconteceu em algum lugar?
HALL - Em teoria, sim. Mas
nunca aconteceu. É um poço
sem fundo, porque sempre haverá novos objetivos. E isso é
bom. O perigo é permanecer de
curto-prazo e clientelista.
FOLHA - Quanto tempo? Décadas?
HALL - Sim. Qualquer político
que ousar dizer "eu não gosto
do Bolsa Família" acabou de
cometer suicídio político.O
conceito básico está aqui para
ficar por um longo tempo.
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