São Paulo, sexta-feira, 13 de agosto de 2004

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Mentor desafia oposição a indicar nome a ser excluído de apuração

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em meio a tentativas frustradas dos líderes no Senado de fechar um acordo sobre a mudança de procedimentos da CPI do Banestado, o relator da comissão, deputado José Mentor (PT-SP), fez ontem uma série de acusações contra o presidente, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), e desafiou a oposição a apontar nomes que devem ser excluídos da quebra de sigilo.
Mentor disse ainda haver "investigação paralela" na CPI. "A oposição ou os que acham que o relator propôs ou deu parecer favorável a muitas quebras que indique quais nomes devem ser retirados. Me digam o que não deve ser investigado [sic]", disse o relator da CPI, em entrevista que durou cerca de duas horas.
Paes de Barros rebateu, afirmando compreender o desespero do relator porque "ficou claro a inconseqüência ao requisitar o sigilo de pessoas honestas".
"Ele partiu da idéia de que, no Brasil, quem usou contas CC5 não é honesto. É uma inversão dos papéis na fiscalização", disse o presidente da comissão.
Mentor confirmou ontem a requisição da quebra de sigilo de 95 banqueiros e executivos ligados ao sistema financeiro, usando como argumento o fato de eles terem remetido dinheiro ao exterior por meio de contas CC5. Disse ter requerido ou opinado em 1.200 pedidos no total.
Entre as acusações feitas por Mentor contra Paes de Barros estão a de modificar requerimento aprovado pela comissão para retirar o nome de três empresas, solicitar a quebra de sigilo de 200 CPFs sem os respectivos nomes e não repassar documentos à secretaria da comissão.
"Há uma investigação paralela na CPI. Não estou procurando tucanos, procuro ilícitos. O problema não é a quebra de sigilo, mas sim vazar", disse Mentor, ao rebater acusações de politização.
Para Paes de Barros, a quebra de sigilo dos 200 CPFs foi "uma das primeiras vitórias" da comissão. "São CPFs de laranjas, inexistentes e irregulares. Eles movimentaram mais de US$ 3 bilhões. Deixei de colocar os nomes para não vitimar as pessoas", disse.
Sobre a retirada das três empresas de documento, Paes de Barros disse ser uma "autocrítica" de Mentor porque é a assessoria do relator a responsável por preparar os ofícios. "Lamento que o deputado Mentor não pare de esculhambar em vez de se preocupar com os destinos da CPI", disse.

Obstruções
O relator acusa ainda Paes de Barros de protelar a comissão por meio de obstruções e cancelamentos das sessões. Segundo Mentor, no primeiro semestre deste ano, de 21 sessões, quatro foram derrubadas e sete canceladas. O presidente nega.
Durante a entrevista concedida na Câmara, Mentor disse que já havia relatado aos integrantes da CPI, inclusive a Paes de Barros, todas as acusações.
Usou os argumentos de líderes governistas para dizer que há motivação política no vazamentos de informações sobre a quebra de sigilos de executivos do mercado financeiro, inclusive diretores do Banco Central. "O governo Lula vem tendo sucesso, especialmente no aspecto econômico."


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