|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Não há prova de que dinheiro de Renan veio de gado, diz PF
Perícia acha fragilidades ao cruzar papéis entregues pela defesa;
não há como dizer que valor de pensão saiu da conta do senador
Não se sabe se conclusão
será alterada com as cópias
de cheques entregues ao
conselho por Renan, que
não foi localizado ontem
JOSIAS DE SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal
conclui nos próximos dias a perícia nos documentos que compõem a defesa de Renan Calheiros (PMDB-AL). Trará notícias ruins para o presidente do Senado.
No esforço para comprovar
que dispunha de dinheiro para
pagar pensão a Mônica Veloso,
com quem tem uma filha, o senador disse ter amealhado, entre 2003 e 2006, R$ 1,9 milhão
com a venda de gado. Apresentou notas e recibos. Os peritos
da PF encontraram em sua
conta valores assemelhados.
Mas não identificaram elementos capazes de atestar, de forma
cabal, que o dinheiro tenha vindo do comércio de gado.
A menos que surjam novos
papéis, as fragilidades já mapeadas serão anotadas na perícia a ser entregue ao Conselho
de Ética. O documento servirá
de base ao relatório que pedirá
a punição ou não de Renan no
processo que apura a suspeita
de uso de verbas da Mendes Júnior para pagar a pensão.
Os peritos detectaram a desconexão de datas entre os saques feitos na conta de Renan e
os pagamentos feitos a Mônica.
Como evidência de que pagou com recursos próprios a
pensão da filha, Renan juntou à
sua defesa cópias de extratos de
uma conta no Banco do Brasil.
Alegou que o pagamento da
pensão, de cerca de R$ 12 mil,
não tinha dia certo. Disse que
os repasses ocorriam em torno
do dia 5 de cada mês. Teriam sido feitos em dinheiro, supostamente sacado da conta dele.
Porém, a PF constatou que os valores dos saques não têm conexão com o montante da pensão. Ora somam menos, ora ultrapassam. Para complicar, não foram entregues ao Instituto
de Criminalística extratos da conta de Mônica -o que impediu o cruzamento da movimentação bancária dos dois.
Os peritos tendem a anotar
no relatório que não há como
assegurar que o dinheiro pago a
ela saiu da conta de Renan.
Levantaram-se, de resto, indícios de que há entre os compradores de carne de Renan logotipos suspeitos.
Ele alega que vendeu bois ao Frigorífico Mafrial, que teria repassado a carne a compradores de idoneidade duvidosa. O problema é que a defesa dele não contém uma
nota do Mafrial. A PF pediu documentos da empresa. A requisição foi enviada para Alagoas.
Mas o Senado não recebeu resposta. E a perícia será concluída com ou sem os papéis.
A PF também solicitou documentos relativos aos negócios
de Renan anteriores a 2003. Os
peritos querem saber se, antes
disso, as fazendas já exibiam sinais de prosperidade.
Um representante de Renan
acompanha o trabalho dos peritos. Conhece as fragilidades
detectadas pela PF. Na quinta-feira, o senador remeteu ao
conselho cópias de cheques supostamente emitidos por compradores de carne das fazendas.
O papelório não havia chegado
à PF até a noite de sexta. Não se
sabe, ainda, se terão o condão
de alterar o rumo da perícia.
A perícia será analisada por
Renato Casagrande (PSB), Marisa Serrano (PSDB) e Almeida
Lima (PMDB). Os dois primeiros tendem a sugerir a cassação
de Renan. O terceiro, a absolvição. Caberá ao conselho votar a
punição. Procurado, Renan não
foi localizado pela reportagem.
JOSIAS DE SOUZA escreve o blog
"Nos Bastidores do Poder" em
www.folha.com.br/blogs/josiasdesouza
Texto Anterior: Alckmin diz ver resultado com "humildade" Próximo Texto: Quintanilha tenta repetir relatores no novo processo contra Renan no Senado Índice
|