São Paulo, segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Não há prova de que dinheiro de Renan veio de gado, diz PF

Perícia acha fragilidades ao cruzar papéis entregues pela defesa; não há como dizer que valor de pensão saiu da conta do senador

Não se sabe se conclusão será alterada com as cópias de cheques entregues ao conselho por Renan, que não foi localizado ontem

JOSIAS DE SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal conclui nos próximos dias a perícia nos documentos que compõem a defesa de Renan Calheiros (PMDB-AL). Trará notícias ruins para o presidente do Senado.
No esforço para comprovar que dispunha de dinheiro para pagar pensão a Mônica Veloso, com quem tem uma filha, o senador disse ter amealhado, entre 2003 e 2006, R$ 1,9 milhão com a venda de gado. Apresentou notas e recibos. Os peritos da PF encontraram em sua conta valores assemelhados.
Mas não identificaram elementos capazes de atestar, de forma cabal, que o dinheiro tenha vindo do comércio de gado.
A menos que surjam novos papéis, as fragilidades já mapeadas serão anotadas na perícia a ser entregue ao Conselho de Ética. O documento servirá de base ao relatório que pedirá a punição ou não de Renan no processo que apura a suspeita de uso de verbas da Mendes Júnior para pagar a pensão.
Os peritos detectaram a desconexão de datas entre os saques feitos na conta de Renan e os pagamentos feitos a Mônica.
Como evidência de que pagou com recursos próprios a pensão da filha, Renan juntou à sua defesa cópias de extratos de uma conta no Banco do Brasil.
Alegou que o pagamento da pensão, de cerca de R$ 12 mil, não tinha dia certo. Disse que os repasses ocorriam em torno do dia 5 de cada mês. Teriam sido feitos em dinheiro, supostamente sacado da conta dele.
Porém, a PF constatou que os valores dos saques não têm conexão com o montante da pensão. Ora somam menos, ora ultrapassam. Para complicar, não foram entregues ao Instituto de Criminalística extratos da conta de Mônica -o que impediu o cruzamento da movimentação bancária dos dois.
Os peritos tendem a anotar no relatório que não há como assegurar que o dinheiro pago a ela saiu da conta de Renan. Levantaram-se, de resto, indícios de que há entre os compradores de carne de Renan logotipos suspeitos.
Ele alega que vendeu bois ao Frigorífico Mafrial, que teria repassado a carne a compradores de idoneidade duvidosa. O problema é que a defesa dele não contém uma nota do Mafrial. A PF pediu documentos da empresa. A requisição foi enviada para Alagoas. Mas o Senado não recebeu resposta. E a perícia será concluída com ou sem os papéis.
A PF também solicitou documentos relativos aos negócios de Renan anteriores a 2003. Os peritos querem saber se, antes disso, as fazendas já exibiam sinais de prosperidade.
Um representante de Renan acompanha o trabalho dos peritos. Conhece as fragilidades detectadas pela PF. Na quinta-feira, o senador remeteu ao conselho cópias de cheques supostamente emitidos por compradores de carne das fazendas.
O papelório não havia chegado à PF até a noite de sexta. Não se sabe, ainda, se terão o condão de alterar o rumo da perícia.
A perícia será analisada por Renato Casagrande (PSB), Marisa Serrano (PSDB) e Almeida Lima (PMDB). Os dois primeiros tendem a sugerir a cassação de Renan. O terceiro, a absolvição. Caberá ao conselho votar a punição. Procurado, Renan não foi localizado pela reportagem.


JOSIAS DE SOUZA escreve o blog "Nos Bastidores do Poder" em www.folha.com.br/blogs/josiasdesouza

Texto Anterior: Alckmin diz ver resultado com "humildade"
Próximo Texto: Quintanilha tenta repetir relatores no novo processo contra Renan no Senado
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.