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Depois do "chute na santa", Universal muda a imagem
Igreja ganha com apoio a Lula, disputa com Globo e menos ataques a outras religiões
Reação rápida a escândalos tem ajudado a mudar a imagem, como ocorreu no mensalão, em que os
envolvidos foram afastados
MARCELO BERABA
DA SUCURSAL DO RIO
Em 12 de outubro de 1995, feriado consagrado à Nossa Senhora Aparecida, padroeira do
Brasil, a Igreja Universal do
Reino de Deus desceu aos infernos. Os chutes e socos desferidos pelo bispo Sérgio von
Helder na imagem da santa durante programa da TV Record
empurrou a igreja, que já vinha
acossada por denúncias de
mercantilismo da fé, intolerância religiosa e sonegação de impostos, ao fundo do poço.
Passados 12 anos, a presença
do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva ao lado do bispo primaz
Edir Macedo na inauguração
da Record News, em 27 de setembro, foi uma indicação segura de que a igreja conseguiu
mudar a imagem e deu a volta
por cima. Lula, que nas eleições
de 1989 e 1994 fora combatido
pela Universal como reencarnação de satanás, também
prestigiava o aliado político. Os
discursos agora estavam afinados e tinham o mesmo alvo, o
monopólio nas comunicações.
Em 1995, a reação ao ato iconoclasta do bispo von Helder
foi fortíssima. Vários templos
foram atacados pelos católicos
e muitos parlamentares pediram a cassação da concessão da
TV Record, , que foi adquirida
pela Igreja Universal em 1990.
Na biografia autorizada que
acaba de lançar ("O Bispo", de
Douglas Tavolaro, Editora Larousse), Edir Macedo revela
que quando tomou conhecimento do episódio, soube imediatamente que foi um erro. Na
época, foi para a TV pedir desculpas e julgou o ato insensato.
Agora, no livro, o define como
"nosso maior erro".
No artigo sobre a história da
Universal no Brasil para o livro
"A Igreja Universal do Reino de
Deus - Os novos conquistadores da fé" (Editora Paulinas), o
sociólogo Ricardo Mariano
constata que a partir do final da
década de 1990 a Iurd "promoveu um verdadeiro processo de
consolidação institucional" e
"tem conseguido granjear
maior legitimidade". Para isso
contribuíram vários fatores.
Em primeiro lugar, a igreja
diminuiu o ímpeto contra os
católicos e mesmo contra as religiões afro-brasileiras.
O prestígio que Lula emprestou à inauguração da Record
News revela dois outros fatores
que contribuem para diminuir
a rejeição à Igreja Universal.
Desde o segundo turno da eleição presidencial de 2002 os
parlamentares eleitos pelos
fiéis da igreja apóiam o governo
Lula. Essa foi uma mudança
importante na estratégia política dos evangélicos que, salvas
as exceções, sempre hostilizaram os partidos de esquerda e
de centro-esquerda.
E a guerra contra a hegemonia da Globo atrai a simpatia de
setores que, embora torçam o
nariz para os métodos da Universal, consideram necessário
o surgimento de atores fortes
na comunicação.
Há, ainda, outros fatores que
ajudam a formatar a nova imagem da igreja. É muito rápida e
incisiva a ação da cúpula religiosa nos casos de escândalos
públicos. Foi assim com vários
deputados envolvidos nas denúncias do mensalão e dos sanguessugas, punidos pela igreja
antes do fim dos processos.
Em questões de moral e comportamento, não é possível
afirmar que a Igreja Universal
tenha orientações liberais, mas
é fora de dúvida que vem se diferenciando das posições conservadores de outras igrejas
evangélicas e, principalmente,
da Igreja Católica.
Em primeiro lugar, não faz
campanha contra o aborto e o
divórcio. Admite os dois nos casos previstos em lei por considerar que são questões de foro
íntimo. Em relação ao aborto,
parlamentares ligados à igreja
defendem que seja estendido
aos casos de comprovação de
anencefalia do feto. Diferentemente da Igreja Católica, os
bispos da Universal são favoráveis ao planejamento familiar e
os métodos de contracepção.
Deve-se reconhecer que a
Igreja Universal mudou sua estratégia, mas, como frisa Mariano, seus principais objetivos
continuam os mesmos: sobrepujar a Rede Globo e a Igreja
Católica.
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