São Paulo, Sábado, 13 de Novembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRIME ORGANIZADO
Políticos do país, principalmente o ex-ditador Desi Bouterse, estariam envolvidos com tráfico
CPI inclui Suriname em investigações

ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília


A CPI do Narcotráfico incluiu o Suriname nas investigações que irá realizar até abril de 2000 para apurar o suposto envolvimento de políticos daquele país com o narcotráfico.
O principal acusado é o ex-ditador Desi Bouterse, cuja prisão foi pedida no ano passado pelo governo da Holanda a 32 países, inclusive o Brasil. O STF (Supremo Tribunal Federal) expediu mandado de prisão contra ele.
Bouterse preside o NDP, partido que elegeu em 1996 o atual presidente do Suriname, Jules Wijdenbosch. É candidato favorito nas eleições que acontecerão em maio do ano que vem.
"Esse problema do Suriname envolve uma questão diplomática que somente uma CPI poderá enfrentar", disse o relator da comissão, Moroni Torgan (PFL-CE).
O Suriname é ex-colônia holandesa e fica na Amazônia. Faz fronteira com Pará e Amapá. O país é apontado pela Polícia Federal como nova rota de tráfico de drogas para a Europa por meio de vôos e navios para a Holanda.
As suspeitas da PF sobre o Suriname aumentaram neste ano por causa da apreensão de um avião no Pará com armas que seriam destinadas aos grupos guerrilheiros da Colômbia, principal produtor de cocaína.
Em setembro, a PF apreendeu 700 kg de cocaína, a maior apreensão deste ano, em uma fazenda no sul do Pará. Isso reforçou a tese da nova rota pelo Suriname, pois as grandes apreensões eram feitas antes no Centro-Oeste, onde os pequenos aviões vindos da Colômbia se abasteciam para seguir viagem em direção a São Paulo ou ao Rio de Janeiro.

Golpe
Ex-comandante das Forças Armadas do Suriname, Bouterse comandou golpe de Estado em 1980 e dirigiu o país até 1987.
Mais tarde, o país foi redemocratizado e ele passou a controlar o NDP, o maior partido surinamês. No atual governo, Bouterse já foi conselheiro de Estado.
"Se ele aparecer no Brasil, vamos ver se Bouterse será preso", disse à Folha o embaixador do Suriname, Rupert Christopher. Além de ser filiado ao NDP, ele disse que é amigo do ex-ditador.
Talvez por isso Christopher tenha contratado para trabalhar na embaixada um dos filhos do ex-ditador, segundo Torgan. Dino Bouterse foi funcionário da embaixada até março, disse.
"O deputado tem de respeitar a soberania do Suriname e não tem de se importar com quem a embaixada contrata ou deixa de contratar", reclamou o embaixador, sem querer dar sua opinião pessoal sobre as acusações feitas contra o ex-ditador.
José Gerardo Grossi, advogado de Bouterse, disse que ele está sendo acusado por "testemunhas anônimas" descobertas pela polícia holandesa. "Esse tipo de testemunha só existe na Holanda. Só o juiz sabe o que ela disse."


Texto Anterior: Garoto desapareceu em 1988
Próximo Texto: Ciro não é parente de acusado pela PF
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.