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CAMINHO DAS ÁGUAS
Rio aumenta 49 km com a descoberta da nova origem
São Francisco tem "nova"
e desprotegida nascente
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O rio São Francisco cresceu em
extensão. Desde 2002, passou a ter
2.863,3 km da nascente, em Minas
Gerais, até a foz. O que determinou o aumento de 49 km foi a descoberta da "nova" nascente. Por
quase dois séculos, a nascente tida
como principal sempre esteve
dentro do Parque Nacional da
Serra da Canastra. Não está mais.
A "nascente geográfica" do São
Francisco agora é o rio Samburá,
que nasce no município mineiro
de Medeiros, vizinho à Serra da
Canastra. Essa descoberta fez aumentar a mobilização de ambientalistas, porque a nascente está
sem proteção, exposta ao desmatamento e à ação de pecuaristas,
agricultores e mineradores.
A preocupação de ambientalistas e técnicos são as plantações de
soja e batata na região da nascente, que usam agrotóxicos, desmatam e provocam erosão. Por isso
eles defendem a criação de uma
Área de Proteção Ambiental em
Medeiros. Outra sugestão é que a
localidade seja incorporada ao
parque da Serra da Canastra, que
abriga e protege a "nascente histórica", em São Roque de Minas.
O governo estuda a preservação
da nascente, mas propõe outra alternativa, dentro de um projeto
de revitalização e preservação de
toda a extensão do São Francisco.
A "nova" nascente
A "nova" nascente foi reconhecida a partir de estudos técnicos
da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales dos São
Francisco e do Parnaíba).
Esses estudos tiveram início em
2001 com a expedição Américo
Vespúcio, organizada pelo engenheiro agrônomo Geraldo Gentil
Vieira, da Codevasf. Em 2002, novas pesquisas foram feitas nas
nascentes dos rios, usando levantamentos técnicos no local e equipamentos de geoprocessamento.
Os resultados confirmaram que o
rio Samburá é o São Francisco. O
braço que desce da Serra da Canastra não é a principal nascente.
Comparados os dois, o Samburá tem maior bacia hidrográfica,
maior vazão e maior calha. É ainda mais profundo. São essas características que definem qual é o
trecho principal de um rio.
Por isso o rio cresceu 49 quilômetros: a diferença entre a distância do trecho do Samburá até a
confluência com o braço do rio
que vem da serra (147 km) e deste
até o mesmo ponto (98 km).
Em 2004, a ANA (Agência Nacional de Águas) publicou resolução ratificando a portaria do extinto Dnaee (Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica) sobre essa questão. Diz a resolução: "Em cada confluência será
considerado curso d'água principal aquele cuja bacia hidrográfica
tiver a maior área de drenagem".
Uma questão ainda está pendente. Um rio é federal, caso do
São Francisco, ou estadual, caso
do Samburá. Mas, pela legislação,
o Samburá deve ser federal.
Para Geraldo Vieira, da Codevasf, e ambientalistas, como André Picardi, do conselho consultivo do parque da Canastra, a proteção da nascente deve ser priorizada, com a criação de uma unidade de conservação que faça do
turismo ecológico uma alternativa econômica para a região.
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