São Paulo, sexta-feira, 13 de novembro de 2009

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Parte do governo insiste em ação de Lula pró-italiano

Ministério das Relações Exteriores sustenta que cabe ao presidente, e não ao STF, a decisão final sobre extradição

Em nota, Ministério da Justiça também faz pressão contra e diz que decisão acaba com "estabilidade jurídica e social" do refúgio


FLÁVIO FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O MRE (Ministério das Relações Exteriores) afirmou ontem que cabe ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a palavra final sobre a extradição ou permanência de Cesare Battisti no Brasil, o que revela persistir no governo federal uma controvérsia sobre quem vai ser o responsável pela definição do caso. Lula, porém, já disse publicamente que seguirá a orientação dada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no processo.
O Ministério da Justiça também faz pressão contra a extradição e argumenta que essa decisão acabaria com a "estabilidade jurídica e social que caracterizam e sustentam o refúgio".
Ontem o ministério publicou em seu site que o envio de Battisti à Itália descumpriria "a regra prevista na Convenção da ONU de 1951, ratificada pelo Brasil, que impede a extradição de refugiados, além de ser um precedente para ações similares em outros países".
A nota afirma que hoje países deixam de recorrer a cortes supremas porque a lei impede a entrega de refugiados. Diz ainda que processos de extradição são arquivados quando há o reconhecimento do refúgio por parte do Executivo. O ministério prevê ainda possível avalanche de processos de extradição de refugiados no país.

Primeiro passo
Após o julgamento do STF, "o primeiro passo seria a decisão política do presidente sobre a conveniência de extraditar ou não o julgado, no caso Battisti", informou a assessoria de imprensa do MRE, após consulta da Folha sobre os próximos passos do caso do italiano.
O STF deve decidir pela extradição. Se Lula não executar tal medida, o governo comprará uma briga jurídica com o tribunal máximo do país.
A tese de que o presidente pode reverter a extradição parte da premissa que a decisão do STF é meramente autorizativa. Sendo assim, se o tribunal concordar com a extradição a definição sobre a entrega do estrangeiro para o país requerente ainda dependeria de uma decisão política do governo.
A corrente jurídica contrária a essa tese afirma que o Brasil assinou um tratado de extradição com a Itália em 1989 e por isso o presidente é obrigado a seguir a decisão do STF.
Para especialistas ouvidos pela Folha, recurso de Battisti à Corte Interamericana de Direitos Humanos não deve atrapalhar a extradição. Ação nesse tribunal pode trazer punições ao Estado brasileiro, como pagamento de indenização, mas não reverteria a extradição.

Colaborou a Sucursal de Brasília



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