São Paulo, sábado, 13 de dezembro de 2008

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Foco

Palco do AI-5, biblioteca do Laranjeiras tem poucos livros, que ninguém lê

CHICO FELITTI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO DE JANEIRO

Na noite de 13 de dezembro de 1968, a biblioteca do Palácio Laranjeiras foi invadida pelo som das sirenes de carros militares que protegiam a 43ª reunião do CSN (Conselho de Segurança Nacional).
Quarenta anos depois do encontro que editou o AI-5, o único barulho que se escuta no mesmo cômodo é o canto de pardais, pousados nas três varandas da sala. Atualmente, o palácio está fechado para visitação e as únicas pessoas que encostam nas poltronas verde-água da sala de 80m2 iluminada por quatro portas-janela são faxineiras.
Se depender do governo do Estado do Rio de Janeiro, o gorjeio logo será substituído pelo barulho de furadeiras: o órgão fez um plano de reforma de R$ 15 milhões para "modernização" do palácio.
Mas o barulho da reforma do telhado (com infiltrações) e da instalação de aparelhos de ar-condicionado embutidos não deve perturbar a rotina de leitura da casa. O hábito de usar a biblioteca para ler não existe, contaram ex-moradores do imóvel à Folha.

Silêncio
O atual governador do Rio, Sérgio Cabral, usa o Laranjeiras como escritório de despacho. Mas fica no escritório, e entra no cômodo raras vezes.
Entre 1987 e 1991, na gestão do ex-governador Wellington Moreira Franco, a biblioteca teve dois usos. Era lá que os dignitários em visita ao Laranjeiras recebiam presentes e onde se realizavam algumas reuniões importantes.
Governadora por seis meses em 2002, Benedita da Silva diz lamentar não ter tido tempo de aproveitar a sala. Ela afirma que o cômodo é "cheio de energias". Se a energia residual é grande, não se pode dizer o mesmo do número de livros.
Das 55 prateleiras dos 11 armários que cobrem as paredes, 29 estão vazias. Onde existem, os livros estão limpos e catalogados. O piso de madeira encaixada em parquê da biblioteca, instalado entre 1909 e 1913, quando a casa foi construída, ainda é o mesmo. Já a mesa usada na reunião não está mais lá.
O móvel de imbuia preta, feito para acomodar 20, mas que acomodou 24 na reunião do dia 13, foi levado para o salão principal, no andar de baixo. Quem senta em uma de suas pontas dá de frente para uma tela do pintor francês Taunay, com o sugestivo nome "A União Faz a Força".


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