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Pressão levou Costa e Silva ao AI-5, afirmam ex-ministros
Versão de Jarbas Passarinho e Ivo Arzua contrasta com a afirmação de general e vice de que foi o próprio presidente que redigiu o ato
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
NANCY DUTRA
VANESSA CORREA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A reconstituição dos eventos
que culminaram na reunião do
dia 13 de dezembro de 1968 envolve contradições. Sobreviventes da assinatura do Ato
Institucional n.º 5, os ex-ministros Jarbas Passarinho (Trabalho) e Ivo Arzua (Agricultura)
dizem que o presidente Arthur
da Costa e Silva foi pressionado
a editar a medida. Essa versão
difere dos registros deixados
pelo general Jayme Portella
(gabinete militar) e pelo vice-presidente Pedro Aleixo.
Em entrevista à Folha, Passarinho diz que Costa e Silva
correu o risco de ser derrubado
do governo pelos membros
mais radicais na véspera da
reunião. "Queriam forçar o
presidente a fazer aquele ato",
afirma. O ex-ministro diz que
fazia parte da ala mais liberal
do gabinete afim ao presidente.
"Se você pegar a vida do Costa e
Silva, vai ver que como presidente ele não teve nada de linha dura", diz.
Ivo Arzua também defende
que o presidente assinou o ato
a contragosto. "Foi levado pela
unanimidade dos órgãos de segurança", afirma. Segundo o
ex-ministro da Agricultura, o
presidente era "um liberal".
"O presidente me disse: "É
ministro, infelizmente tivemos
que tomar essas medidas'".
O chefe do gabinete militar
Jayme Portella escreveu, em
seu livro de memórias, que o
presidente redigiu de próprio
punho o rascunho do AI-5, antes mesmo do fim da votação
que negaria a licença para processar o deputado Márcio Moreira Alves. "Conversamos sobre o que estava ocorrendo em
Brasília, ele tirou de sua pasta
um talão de memorando e passou a escrever. Leu o que havia
escrito, que nada mais era do
que os pontos principais de um
ato institucional", disse.
Segundo o general, Costa e
Silva revisou o documento ainda na noite do dia 12. "Ele havia
reformulado os itens que me
mostrara no avião e acrescentou mais um, "recesso do Congresso'", contou. Na prática,
Costa e Silva redigiu 8 dos 12
artigos do AI-5. Dentre eles, a
suspensão dos direitos políticos e cassação de mandatos, a
intervenção nos Estados ou
Municípios e a suspensão de
habeas corpus.
A decisão do presidente de só
assinar o ato no dia seguinte foi
um teste de força, segundo
Portella. Costa e Silva não queria que sua decisão fosse vista
como resultante da pressão de
ministros e comandantes militares. O fato é que não houve
improviso na elaboração do AI-5, segundo José Carlos Brandi
Aleixo, filho do então vice-presidente, Pedro Aleixo, o único
que votou contra o ato.
"Meu pai lutou contra o Ato
Institucional muitas semanas
antes", afirmou José Aleixo.
Ele diz que a imprensa publicou no início de novembro críticas de Pedro Aleixo a articulações da linha-dura. "Chamou
de subversivos as mesmas autoridades que tramavam contra a Constituição."
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