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PF apreende recibos do DEM nacional na casa de Arruda
Comprovantes de doação estavam no armário de suspeito de operar o mensalão
Empresas que contribuíram com partido têm negócios no governo do DF; dirigente da legenda afirma estranhar o paradeiro dos documentos
FILIPE COUTINHO
FERNANDA ODILLA
HUDSON CORRÊA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal apreendeu
durante a Operação Caixa de
Pandora recibos de doações ao
DEM, assinados pelo tesoureiro nacional do partido, no anexo da residência oficial do governador afastado do DF, José
Roberto Arruda (sem partido),
preso desde quinta-feira.
As doações foram feitas por
empresas com interesses em
negócios no Distrito Federal.
Os recibos estavam no armário do anexo da residência oficial do governador, que era usado por Domingos Lamoglia, ex-chefe de gabinete de Arruda.
Lamoglia é suspeito de arrecadar propina, que, segundo investigação da PF, ficava com o
governador (40%) e também
era usada para pagar deputados
da base aliada em troca de
apoio (daí o nome mensalão).
Arruda era do DEM até o estouro da operação, que revelou
em novembro o esquema de arrecadação e distribuição de
propina em seu governo.
A PF investiga por que motivo os documentos estavam no
local, quando deveriam ficar
com as empresas doadoras.
Os comprovantes de contribuição financeira ao partido,
feita em maio de 2009, somam
R$ 425 mil, sendo R$ 275 mil
da construtora Artec e R$ 150
mil da Antares Engenharia.
Quem assinou os recibos foi o
tesoureiro da Executiva Nacional do partido, Saulo Queiroz.
Ele disse que as doações foram
registradas na contabilidade do
partido, mas estranhou o fato
de os documentos estarem no
anexo da residência oficial.
Queiroz diz que enviou os recibos para as empresas doadoras.
A Antares, porém, afirmou
que não pediu nem recebeu
qualquer recibo de doação. A
Artec não se manifestou.
As duas empresas têm interesses no governo do Distrito
Federal. A Artec, que possui
contratos para coleta de lixo e
obras, aumentou seus ganhos
em 41% desde o início da gestão
Arruda. A empresa recebeu
cerca de R$ 95 milhões desde
2007. Desse total, quase R$ 27
milhões foram pagos após ter
doado dinheiro ao DEM.
A empresa é de propriedade
do candidato derrotado à Câmara Legislativa do DF César
Lacerda, do PSDB. A Secretaria
de Obras de Arruda era comandada pelo também tucano Márcio Machado. A PF apura se o
ex-secretário participava do esquema de coleta de propina.
Machado nega envolvimento.
Já a Antares, cinco meses
após a doação, recebeu do Instituto Brasília Ambiental, órgão do governo, uma licença
prévia para iniciar obras.
Segundo o Ministério Público do Distrito Federal, o documento foi concedido pelo governo sem obedecer às exigências legais. Em janeiro, o Tribunal de Justiça suspendeu autorização prévia para a obra.
Conforme a PF, os comprovantes de doação foram
apreendidos junto com uma
lista de pagamentos a empresas, incluindo as que, segundo a
investigação, pagavam propina
ao esquema do mensalão.
A lista tem o título de "solicitação de previsão de pagamentos não autorizados até 22 de
outubro de 2009" e refere-se a
contratos da Secretaria de Educação do DF e do Fundeb (Fundo para Educação Básica).
Após a operação, o secretário
José Luiz Valente foi afastado
do cargo e a Justiça autorizou
busca e apreensão também no
gabinete, na residência e na loja
de um assessor da pasta.
Na análise do material
apreendido, a PF diz que "chamam a atenção os valores" pagos a empresas suspeitas de financiarem o esquema e já citadas em depoimento por Durval
Barbosa,que delatou o mensalão. As duas empresas doadoras
ao DEM não constam da lista.
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