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EUA vão cobrar mais ação contra narcotráfico
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Em busca de consolidar a liderança regional, a comitiva do
presidente Lula levou na bagagem um pedido do presidente
venezuelano, Hugo Chávez, para facilitar as relações com os
EUA, mas pode trazer de volta
uma cobrança para atuar de
forma mais contundente no
combate ao narcotráfico, principalmente na Bolívia
Desde que o boliviano Evo
Morales expulsou a DEA (agência antidrogas norte-americana), em novembro, os EUA vêm
pedido ao Brasil mais envolvimento no combate ao tráfico de
drogas regional.
No início do mês, o secretário-assistente para Narcóticos
do Departamento de Estado
dos EUA, David T. Johnson, enviou uma carta ao Itamaraty,
obtida pela Folha, na qual
exorta o Brasil a exercer seu
"poder regional" para "influenciar seus vizinhos" a adotarem
uma estratégia "eficiente" contra o narcotráfico". Em referência à expulsão da DEA, pede
ainda colaboração para refazer
as "redes de inteligência".
Na carta, Johnson prevê que
a saída da DEA leve ao aumento da produção na Bolívia e diz
que a crescente presença de
máfias colombianas e mexicanas representa uma ameaça ao
Brasil. Embora considere que o
combate à cocaína tenha de ser
feito de forma regionalizada
entre os três países produtores
(Bolívia, Colômbia e Peru), a
avaliação americana é que o
país de Morales é um problema
muito mais brasileiro do que
americano.
O principal argumento americano são os números. O Brasil
consome ao menos 65% da cocaína boliviana, segundo dados
oficiais, contra cerca de 1% dos
EUA. A Bolívia é o principal
fornecedor do Brasil e o terceiro maior produtor de cocaína.
Mas o governo brasileiro resiste a uma política mais agressiva com a Bolívia sobre o tema.
No Itamaraty, predomina a
avaliação de que a estratégia
americana não tem dado certo.
Há também o temor de que a
cocaína possa "policializar" as
relações diplomáticas, além de
provocar um desgaste parecido
com o tema do gás.
Apesar das diferenças com os
EUA, o Brasil autorizou que
parte dos cerca de 50 funcionários da DEA -expulsos da Bolívia sob a acusação de conspirar
para derrubar Morales- fosse
realocada em Brasília.
A reportagem procurou a
Coordenação Geral de Combate aos Ilícitos Transnacionais
do Itamaraty para comentar
sobre a carta de Johnson e a
transferência de funcionários
vindos da Bolívia, mas não teve
resposta. A representação
americana no Brasil tampouco
respondeu quantos funcionários da Bolívia foram realocados em Brasília.
Segundo fontes diplomáticas, Chávez enviou recentemente a Brasília um de seus
principais assessores internacionais, Maximilien Arvelaiz,
para entregar ao Planalto uma
carta escrita por ele. Ali, o venezuelano estabelece as bases
para retomar o diálogo com os
EUA e pede a ajuda de Lula.
Apesar da carta, Chávez disse
na semana passada que havia
dado "luz verde" para que Lula
falasse com Obama sobre a Venezuela, dando a entender que
o pedido tinha vindo do colega.
Em setembro, Bolívia e Venezuela expulsaram os embaixadores americanos. Morales
alegou que o representante de
Washington estava conspirando para derrubá-lo. Chávez
agiu em solidariedade.
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