São Paulo, sábado, 14 de março de 2009

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EUA vão cobrar mais ação contra narcotráfico

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Em busca de consolidar a liderança regional, a comitiva do presidente Lula levou na bagagem um pedido do presidente venezuelano, Hugo Chávez, para facilitar as relações com os EUA, mas pode trazer de volta uma cobrança para atuar de forma mais contundente no combate ao narcotráfico, principalmente na Bolívia
Desde que o boliviano Evo Morales expulsou a DEA (agência antidrogas norte-americana), em novembro, os EUA vêm pedido ao Brasil mais envolvimento no combate ao tráfico de drogas regional.
No início do mês, o secretário-assistente para Narcóticos do Departamento de Estado dos EUA, David T. Johnson, enviou uma carta ao Itamaraty, obtida pela Folha, na qual exorta o Brasil a exercer seu "poder regional" para "influenciar seus vizinhos" a adotarem uma estratégia "eficiente" contra o narcotráfico". Em referência à expulsão da DEA, pede ainda colaboração para refazer as "redes de inteligência".
Na carta, Johnson prevê que a saída da DEA leve ao aumento da produção na Bolívia e diz que a crescente presença de máfias colombianas e mexicanas representa uma ameaça ao Brasil. Embora considere que o combate à cocaína tenha de ser feito de forma regionalizada entre os três países produtores (Bolívia, Colômbia e Peru), a avaliação americana é que o país de Morales é um problema muito mais brasileiro do que americano.
O principal argumento americano são os números. O Brasil consome ao menos 65% da cocaína boliviana, segundo dados oficiais, contra cerca de 1% dos EUA. A Bolívia é o principal fornecedor do Brasil e o terceiro maior produtor de cocaína.
Mas o governo brasileiro resiste a uma política mais agressiva com a Bolívia sobre o tema. No Itamaraty, predomina a avaliação de que a estratégia americana não tem dado certo. Há também o temor de que a cocaína possa "policializar" as relações diplomáticas, além de provocar um desgaste parecido com o tema do gás.
Apesar das diferenças com os EUA, o Brasil autorizou que parte dos cerca de 50 funcionários da DEA -expulsos da Bolívia sob a acusação de conspirar para derrubar Morales- fosse realocada em Brasília.
A reportagem procurou a Coordenação Geral de Combate aos Ilícitos Transnacionais do Itamaraty para comentar sobre a carta de Johnson e a transferência de funcionários vindos da Bolívia, mas não teve resposta. A representação americana no Brasil tampouco respondeu quantos funcionários da Bolívia foram realocados em Brasília.
Segundo fontes diplomáticas, Chávez enviou recentemente a Brasília um de seus principais assessores internacionais, Maximilien Arvelaiz, para entregar ao Planalto uma carta escrita por ele. Ali, o venezuelano estabelece as bases para retomar o diálogo com os EUA e pede a ajuda de Lula.
Apesar da carta, Chávez disse na semana passada que havia dado "luz verde" para que Lula falasse com Obama sobre a Venezuela, dando a entender que o pedido tinha vindo do colega.
Em setembro, Bolívia e Venezuela expulsaram os embaixadores americanos. Morales alegou que o representante de Washington estava conspirando para derrubá-lo. Chávez agiu em solidariedade.


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