São Paulo, domingo, 14 de março de 2010

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JANIO DE FREITAS

Coleção de ônus


Apatia de Serra ante decisões que ameaçam bilionários direitos financeiros de SP compromete o próprio Estado


JOSÉ SERRA tem um plano genial. Se e quando enfim se declare candidato à Presidência, logo irromperá nas pesquisas, avassalador, rumo a altitudes definitivas que as urnas apenas selarão como oficiais.
Ou é isso, ou nada mais pode justificar a permanência de Serra no muro eleitoral, porque já compromete o próprio Estado. Seu alheamento ante a tramitação e votação, na Câmara, dos projetos sobre "royalties" da exploração de petróleo é a apatia do governador de São Paulo. Ante decisões que implicam ameaça grave a bilionários direitos financeiros do Estado.
Batalhar nesse campo é, por certo, opor-se à maioria dos deputados e aos senadores que querem beneficiar seus Estados, não produtores, com os "royalties" que hoje são dos produtores Estado do Rio e Espírito Santo e, amanhã, com o pré-sal engordariam muito a riqueza de São Paulo.
Logo, aí está um choque de interesses que, a par de todos os outros sentidos, neste ano é essencialmente eleitoral. A posição dos parlamentares equivale a uma bandeira de campanha em suas bases eleitorais. A Serra, imaginado pretendente a votos pelo país todo, não convêm atritos que acirrem hostilidades estaduais, o que não quer dizer que a solução seja só o alheamento; a Sérgio Cabral, candidato à reeleição, abre-se a possibilidade de praticar tudo o que se mostre como defesa dos interesses do Estado do Rio.
A passeata convocada pelo próprio governo fluminense, que sonha ver na quarta-feira a eloquência das manifestações nos anos 60, tem razão de ser como protesto contra o assalto aprovado pela Câmara às finanças do Estado do Rio e do Espírito Santo, mas tem outro aspecto que pode ser visto como adicional ou como fundamental: é um protesto a favor. A favor da candidatura de Sérgio Cabral, que tem alguns buracos e corcovas em sua rota. Sem sugerir dúvida sobre a sinceridade das suas lágrimas, Cabral está aliando o dever de governador ao melhor proveito eleitoral do problema dos "royalties".
E Serra? Nada a dizer ou fazer como governador nem como hipotético candidato, com tamanho tempo de política e presença em governos e no Congresso? Por falta de margem para dizer e fazer, servindo ao governo e à candidatura, é que não é.
A ira que corrói por dentro os generais do PSDB, da ativa ou reformados, com a perda de tempo e sobretudo de oportunidades por Serra, só não explodiu sobre ele porque ninguém sabe o que aconteceria depois. Se Aécio Neves desse ao menos um sorriso, quando mencionada a hipótese de lançar-se a esta altura, nem o fato de ser paulista manteria José Serra como o nome do PSDB para a Presidência. Tudo está incandescente no PSDB.
Esperemos que José Serra traga algo capaz ao menos de justificar os ônus que acumula por vontade própria.


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