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Marina constrói "liberalismo sustentável"
Austeridade fiscal e descarbonização serão as prioridades do programa econômico verde, que prevê revisão de PAC e pré-sal
Economistas que apoiam a
senadora acham que Estado é pesado e ineficaz e querem cortar gasto, mas prometem
manter programas sociais
MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA
ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL
O grupo de economistas e
empresários que gravita em
torno de Marina Silva, pré-candidata à Presidência pelo PV,
considera o Estado brasileiro
pesado e ineficiente e planeja
cortar gastos. Rejeita, contudo,
o rótulo de "neoliberal", que a
senadora atribui à "satanização
do debate". De formação de esquerda, Marina constrói um
discurso econômico próximo a
um "liberalismo sustentável".
A equipe descarta também a
simbiose entre crescimento
econômico e desenvolvimento
que está na matriz do pensamento social-democrata -petista ou tucano. Para eles, crescer por crescer, sem "descarbonizar", é a receita do desastre.
"A necessidade de descarbonização das economias do planeta é inadiável, e obviamente
o Brasil tem todas as condições
de dar uma contribuição tanto
na redução das emissões quanto no estabelecimento de um
novo paradigma", diz a pré-candidata verde. "Acelerar não
significa melhorar."
Não há ainda um grupo formal encarregado de formular
um plano de governo. O alistamento de Eduardo Giannetti
da Fonseca entre os apoiadores
da pré-candidata do PV para a
Presidência, contudo, lançou
no ar a suspeita de "tucanização" da campanha.
A tese vem sendo reforçada
pelas críticas verdes ao aumento das despesas correntes e à
multiplicação de cargos comissionados no governo Lula. Os
adeptos de Marina também
não poupam o PAC e a euforia
do pré-sal -críticas de "direita", se vistas da perspectiva dos
ex-correligionários dela.
"Não estamos nem à esquerda nem à direita de Lula, mas à
frente", rebate Alfredo Sirkis,
vereador pelo PV no Rio e coordenador da pré-candidatura.
"Queremos incorporar o que
ele trouxe de bom e o que herdou de FHC. Não houve herança maldita, e o Lula sabe disso."
Num eventual governo do PV
não haveria cortes em programas sociais como o Bolsa Família, apenas maior atenção para
a chamada porta de saída (capacitação dos beneficiários).
O compromisso com austeridade fiscal seria evidenciado
com medidas de impacto simbólico, como a extinção de pelo
menos metade dos cargos comissionados de livre provimento, hoje em cerca de 23 mil.
Não se considera o Estado inchado, e sim "pouco republicano", nas palavras do empresário Guilherme Leal, da Natura,
provável vice de Marina. Mas
ele não quer nem ouvir falar em
"Estado mínimo". "A discussão
tem de ser eficiência e transparência do Estado, não tamanho", afirma Leal. "É inquestionável que o Estado tem de ser
forte, indutor, regulador, provedor de serviços de qualidade." Além da Natura, Leal fundou o Instituto Arapyaú.
Não está definido ainda se o
economista contribuirá diretamente com propostas para o
programa de governo, que fica
pronto em agosto. Pode ser que
só se engaje em outro instituto,
Democracia e Sustentabilidade, que congrega intelectuais
próximos de Marina e será lançado em algumas semanas.
Há mais economistas e intelectuais dispostos a fornecer
ideias para a campanha verde,
mas não militância política. É o
caso de José Eli da Veiga, da
USP, especialista em sustentabilidade. Outros nomes já participam do grupo, como Sergio
Abranches, sociólogo, Ricardo
Paes de Barros, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica e
Aplicada), Samir Coury e Paulo
Sandroni, da FGV.
O ponto de convergência entre eles é a ideia de descarbonização. A ameaça do aquecimento global exige uma desaceleração do consumo de combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão), que lançam gases
do efeito estufa na atmosfera e
contribuem para aquecê-la.
Sem reduzir a emissão de
carbono, não se pode falar em
desenvolvimento, porque este
não seria sustentável. Esse é o
critério que definirá o sucesso
ou o fracasso de toda economia
nacional, portanto todo o debate econômico deveria ser prismado por ele. Nada a ver com o
PAC e o pré-sal de Lula e de sua
pré-candidata, Dilma Rousseff.
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