|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Operação lembra Anaconda e traz lições
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Guardadas as proporções, a
Operação Hurricane, no Rio, e
a Operação Anaconda, em São
Paulo, têm pontos em comum e
lições a oferecer. Ao se ramificar no Judiciário, o crime organizado exige a participação de
outros atores. A corrupção nessa esfera não se limita à ação individual do juiz. Requer a cumplicidade de magistrados, a cobertura de policiais corruptos e
a intermediação de advogados
envolvidos com as quadrilhas,
além da prevaricação, para dizer o mínimo, de membros do
Ministério Público.
Nos dois casos, é possível deduzir ter havido venda de decisões (sentenças, liminares, habeas corpus), tráfico de influência nos tribunais e direcionamento de processos para
favorecer os suspeitos.
As duas ações da Polícia Federal, após demoradas investigações autorizadas pela Justiça, evidenciam a incapacidade
de os tribunais, sozinhos, separarem as suas "maçãs podres".
Em São Paulo, o juiz federal
João Carlos da Rocha Mattos,
condenado como mentor de
uma quadrilha que vendia sentenças, desafiou impune outros
magistrados durante muitos
anos. No Rio, o desembargador
José Eduardo Carreira Alvim,
preso ontem, acusado de favorecer uma quadrilha que explorava jogos ilegais, pretendia
eleger-se presidente do tribunal pela regra da antigüidade
(paradoxalmente, a direção do
tribunal federal paulista é acusada de desobedecer liminar do
STF para não cumprir essa norma nas suas eleições).
A Anaconda flagrou um subprocurador geral da República,
Antônio Augusto César, com
escritório de advocacia instalado no quartel-general da quadrilha. A Hurricane prendeu o
procurador regional João Sérgio Leal Pereira, que responde
a processo criminal no Superior Tribunal de Justiça, acusado de envolvimento em outras
falcatruas. Os dois exemplos,
no Judiciário e no Ministério
Público, comprovam a fragilidade das corregedorias nas
duas instituições.
As duas operações foram planejadas durante vários meses,
sem vazamentos. Quando a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça trabalham afinados e longe dos holofotes, as
investigações têm início, meio
e fim. Na Anaconda, contudo, o
Supremo divergiu da decisão
de outros tribunais e considerou ineptas algumas denúncias.
A experiência internacional
mostra que o crime organizado
só é combatido eficientemente
com a especialização dos juízes.
A integração dos órgãos que
combatem o crime sofisticado
sofrerá retrocesso se o STF decidir que as varas criadas para
julgar crimes de lavagem de dinheiro ferem a Constituição.
Texto Anterior: Líderes do jogo do bicho vão para caça-níqueis Próximo Texto: Outro lado: Advogada diz que Kalil teve direitos cerceados Índice
|