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Para analistas, visita não revigora religião
"A gente não tem ilusão de que a vinda do papa terá como efeito imediato mudar uma situação", diz o arcebispo de SP
Pregação também terá pouco efeito, afirmam especialistas; simbologia do cargo seria mais importante para fiéis do que discursos
DA REDAÇÃO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Embora, durante a visita de
Bento 16 ao Brasil, tenha ocorrido uma tentativa de aproximação dele com o público, com
aparições freqüentes na sacada
do mosteiro de São Bento e acenos aos fiéis, religiosos e acadêmicos ouvidos pela Folha não
acreditam que o desempenho
do pontífice durante a visita será determinante para reacender o catolicismo do país.
"A gente não tem ilusão de
que a vinda do papa terá como
efeito imediato mudar uma situação", disse anteontem, em
Aparecida, o arcebispo de São
Paulo, d. Odilo Scherer. "Nem o
papa pensa isso", acrescentou.
Eliane Moura, professora do
Departamento de História da
Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), ressalta
que grande parte dos compromissos do papa -como o encontro com bispos na Catedral
da Sé e com jovens católicos no
Pacaembu- refletiu a tentativa
de intensificar o "espírito missionário" dos padres e leigos
para difundir a religião. Segundo ela, é o sucesso ou não desse
chamado, mais do que o carisma do papa ou a falta dele, que
vai determinar se a visita terá
algum efeito prático para o catolicismo no país. "A notícia da
visita cai no esquecimento."
Essa evocação ao "espírito
missionário", para ela, põe por
terra a tese de que o papa estaria em busca de menos e melhores fiéis. A opinião é corroborada em parte pelo historiador Boris Fausto. Para ele, o
papa Bento 16 quer ver o catolicismo se expandir, mas, por outro lado, coloca em primeiro lugar o fortalecimento dos princípios da Igreja.
Outros especialistas também
minimizam o fato de os valores
pregados por Bento 16 -como
a castidade e a condenação à
camisinha- representarem
um fosso com a realidade. Para
o sociólogo Luiz Alberto Gomes da Silva, "as palavras do
papa não são tão importantes, e
sim a sua imagem". "As pessoas
choram ao ver o papa, e não ao
ouvi-lo, elas vêm de longe para
receber a bênção, não para receber ensinamentos", afirma.
"O que conta mais é o que o
papa faz, e não o que ele fala,
até por que ele não está dizendo nenhuma novidade, nada
que não esteja no Evangelho",
afirma Pedro Ribeiro de Oliveira, sociólogo e assessor das
CEBs (Comunidades Eclesiásticas de Base). "O que as pessoas pensam é que o papa está
entre nós e nos ama -é esse o
efeito objetivo da visita do papa
para o grande público."
Para Oliveira, "a igreja molda
muito pouco o clima moral da
sociedade." Sua fala é, de certa
maneira, confirmada por recente pesquisa do Datafolha:
apenas 9% dos católicos dizem
ter mudado hábitos por causa
de sua religião.
Gestos
Religiosos ouvidos pela Folha fizeram questão de exaltar
o que seria um abrandamento
da imagem de sisudo do papa
Bento 16. "Ir seis vezes à janela
do mosteiro [de São Bento] valeu muito mais que seus discursos", diz d. Demétrio Valentini,
bispo de Jales (SP) e que passou
os últimos dias ao lado do papa.
O secretário de comunicação
da arquidiocese de São Paulo,
padre Juarez de Castro, diz que
Bento 16 não "rejeita quebra de
protocolo". No entanto, afirma,
ele "se recompõe imediatamente depois".
D. Moacir Grechi, arcebispo
de Porto Velho, exalta o que
chama de "delicadeza" do papa
durante sua visita ao Brasil. "Já
estive com ele em momentos
agradáveis e não tão agradáveis. Ele só não tem aquele carisma com características de
teatro ou cinema, mas ele rouba a cena", afirmou.
A comparação com o antecessor João Paulo 2º, porém, é
inevitável. "Ele deu uma impressão positiva, de velhinho
simpático, mas não tentou imitar João Paulo 2º e não forjou
nenhum gesto espetacular",
pondera d. Demétrio. Padre
Juarez admite que Bento 16
não tem mesmo "essa fotogenia
toda". Mas tem "surpreendido
as pessoas com cada gesto."
Na avaliação do governador
de São Paulo, José Serra, que
conheceu João Paulo 2º, Bento
16 "é menos exuberante". "Mas
transmite calma, paz de espírito. Parece mais profundo em
matéria de convicções. Nos
seus pronunciamentos, embora feitos de forma delicada, não
faz concessões. Mostra uma
formidável resistência física
para sua idade."
(ANGELA PINHO, RAFAEL TARGINO, SILAS MARTÍ E WILLIAN VIEIRA)
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