São Paulo, quinta-feira, 14 de junho de 2007

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JANIO DE FREITAS

A proteção

"Indícios sem provas" são tudo o que Epitácio Cafeteira encontrou para pedir o arquivamento do caso Renan

O EPISÓDIO Renan Calheiros entrou agora na fase didática, uma peculiaridade que alguns momentos políticos ou administrativos alcançam, como se a sua finalidade fosse a de dizer aos cidadãos em geral: "Cada um aí ponha-se já no seu lugar, vocês não se enxergam?" É o momento que mostra à opinião pública os seus limites, a impossibilidade de perturbar a rede de interesses mútuos que formam o verdadeiro poder dirigente no país.
Severinos, Collors e outros penetras, se provocarem indisposições excessivas em relação à rede, são expelidos e entregues ao seu azar. Para os autênticos do entrelaçamento, porém, não há princípios legais, não há diferenciação partidária, não há opinião pública que possam abatê-los. Podem inventar as fazendas aéreas do senador Romero Jucá, as "sobras de campanha não contabilizadas" de tantos outros, os lobistas que são "apenas portadores", as dezenas ou centenas de ganhos nas loterias, as vacas auríferas, enfim, o que lhes ocorrer como escapismo será suficiente para que o restante de chicago-1920 os proteja de conseqüências. Nada lhes passará que fique como mais do que "acusações vazias" e "indícios sem provas".
Pois "indícios sem provas" são tudo o que o senador Epitácio Cafeteira encontrou para pedir o arquivamento do caso Renan Calheiros. Falta de imaginação, sem dúvida, mas também aquilo mesmo que é necessário para a continuação do processo. Se não há indícios, arquive-se. Para a investigação, porém, o que se requer é indício mesmo. Provas dispensariam investigações.
O velho Epitácio Cafeteira poderia aproximar-se do fim do seu tempo com um gesto à altura da ocasião. Deu o braço ao pequeno Sibá Machado, senador sem eleitor, suplente presenteado que engata o seu mau início onde Epitácio Cafeteira começa o mau encerramento.

Esclarecimento
O governador Jaques Wagner esclarece que o seu recurso à Justiça contra a greve dos professores, na Bahia, não incluiu o pedido de prisão do líder grevista, ficou limitado à obtida declaração de ilegalidade da greve. A notícia do pedido de prisão foi publicada no final da semana por jornais da Bahia e do Rio, e por decorrência, na terça-feira, aqui objeto de crítica, que dou como inválida, a Jaques Wagner.

Na medida
Não seria tempo, já, de afinal aparecer alguma negociata consumada do tal Vavá, para justificar tantas páginas de jornal e tempo de TV dedicados a esse falso esperto?
A propósito, o erro de delegados e agentes da Polícia Federal não estaria em passar informações à imprensa, segundo a acusação feita por Lula. Antes estaria em passá-las sem a depuração e os esclarecimentos de que a PF já dispõe, e que jornalistas não têm como ou não têm prazo para obtê-las. Aí, sim, seria conveniente uma adequação de procedimentos -nos casos, é claro, em que o propósito seja o de informar a opinião pública e não o de política ou vindita.


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