São Paulo, quinta-feira, 14 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em silêncio, Exército desaprova indenização

Corporação prefere não se manifestar publicamente sobre decisão da Comissão de Anistia, que chamou de "soberana"

Militares avaliam que Carlos Lamarca, ao romper vínculo unilateralmente com as Forças Armadas, deixou de ter direito a promoções


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A decisão da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça concedendo indenizações e aumento de pensões para os dependentes do ex-capitão do Exército e guerrilheiro Carlos Lamarca foi mal recebida entre os militares ontem.
O comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, telefonou para o ministro da Defesa, Waldir Pires, pedindo a interferência dele para derrubá-la. Depois do telefonema, Pires foi ao Ministério da Justiça falar com o ministro Tarso Genro, a quem cabe ratificar ou não a decisão da comissão. Em declarações públicas ontem, Genro já tinha se manifestado favorável ao aumento da indenização e à promoção de Lamarca.
As Forças Armadas classificam oficialmente Carlos Lamarca como desertor e consideram que, ao romper unilateralmente o vínculo com a corporação, ele deixou de ter direito a qualquer promoção e a atualização simbólica de sua patente para efeitos de pensão.
Os militares dizem que os dependentes de Lamarca já recebem proventos desde que ele foi declarado morto ou desaparecido, por abandonar as fileiras do Exército, então com a patente de capitão, e que não cabe aumentar esses proventos, pois a decisão foi dele, espontaneamente. Mesmo que estivesse vivo, jamais chegaria à patente de coronel.
Apesar da irritação, o Exército não se manifestou publicamente contra o aumento da pensão para a viúva de Lamarca, dizendo que se trata de "decisão soberana, dentro do limite da lei". Mas destacou que a comissão apenas sugere, mas a decisão efetiva é do ministro da Justiça, criando a expectativa de que Genro interfira.
Esse é o primeiro problema desde que o general Enzo assumiu o Comando do Exército no início deste ano, mas é apenas mais um lance de desconforto da área militar com o governo Luiz Inácio Lula da Silva, que já está no terceiro ministro da Defesa desde o primeiro mandato. Lula teve problemas com uma nota do Comando do Exército enaltecendo o golpe de 1964, ainda no primeiro mandato, vem tendo dificuldades para lidar com as pressões por aumentos de soldos e por equipamentos e envolveu-se numa crise com a Aeronáutica ao ser acusado de atropelar a hierarquia militar ao negociar com controladores de vôo.


Texto Anterior: Saiba mais: Uma decisão de 1996 respalda a nova promoção
Próximo Texto: Medida de comissão provoca reações opostas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.