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Em silêncio, Exército desaprova indenização
Corporação prefere não se manifestar publicamente sobre decisão da Comissão de Anistia, que chamou de "soberana"
Militares avaliam que Carlos Lamarca, ao romper vínculo unilateralmente com as Forças Armadas, deixou de ter direito a promoções
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A decisão da Comissão de
Anistia do Ministério da Justiça concedendo indenizações e
aumento de pensões para os
dependentes do ex-capitão do
Exército e guerrilheiro Carlos
Lamarca foi mal recebida entre
os militares ontem.
O comandante do Exército,
general Enzo Martins Peri, telefonou para o ministro da Defesa, Waldir Pires, pedindo a interferência dele para derrubá-la. Depois do telefonema, Pires
foi ao Ministério da Justiça falar com o ministro Tarso Genro, a quem cabe ratificar ou não
a decisão da comissão. Em declarações públicas ontem, Genro já tinha se manifestado favorável ao aumento da indenização e à promoção de Lamarca.
As Forças Armadas classificam oficialmente Carlos Lamarca como desertor e consideram que, ao romper unilateralmente o vínculo com a corporação, ele deixou de ter direito a qualquer promoção e a
atualização simbólica de sua
patente para efeitos de pensão.
Os militares dizem que os dependentes de Lamarca já recebem proventos desde que ele
foi declarado morto ou desaparecido, por abandonar as fileiras do Exército, então com a
patente de capitão, e que não
cabe aumentar esses proventos, pois a decisão foi dele, espontaneamente. Mesmo que
estivesse vivo, jamais chegaria
à patente de coronel.
Apesar da irritação, o Exército não se manifestou publicamente contra o aumento da
pensão para a viúva de Lamarca, dizendo que se trata de "decisão soberana, dentro do limite da lei". Mas destacou que a
comissão apenas sugere, mas a
decisão efetiva é do ministro da
Justiça, criando a expectativa
de que Genro interfira.
Esse é o primeiro problema
desde que o general Enzo assumiu o Comando do Exército no
início deste ano, mas é apenas
mais um lance de desconforto
da área militar com o governo
Luiz Inácio Lula da Silva, que já
está no terceiro ministro da
Defesa desde o primeiro mandato. Lula teve problemas com
uma nota do Comando do
Exército enaltecendo o golpe
de 1964, ainda no primeiro
mandato, vem tendo dificuldades para lidar com as pressões
por aumentos de soldos e por
equipamentos e envolveu-se
numa crise com a Aeronáutica
ao ser acusado de atropelar a
hierarquia militar ao negociar
com controladores de vôo.
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