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Medida de comissão provoca reações opostas
DA REPORTAGEM LOCAL
A decisão da Comissão de
Anistia sobre Carlos Lamarca
provocou reações antagônicas
entre pessoas que tiveram participação no regime militar ou
estudaram o período.
"É inconcebível. [Lamarca
foi] um homem que, na sua luta, matou um filho do povo, da
PM", diz Jarbas Passarinho, coronel da reserva, ex-ministro
da Educação (governo Emílio
Garrastazu Médici) e da Previdência Social (governo João
Baptista Figueiredo), ambos
durante o regime militar.
"Lamarca matou um rapaz
que se apresentou voluntariamente para salvar seus soldados. A impressão é que se está
numa república democrática
popular", finalizou.
O historiador Jacob Gorender fez oposição ao regime militar no PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário). Autor do livro "Combate
nas Trevas", sobre a esquerda
brasileira na ditadura, ele afirma que a medida tem um significado "extraordinário".
"Nossa população vai entender muito bem essa indenização, ele está na memória do povo como um rebelde, um insurreto", aponta o historiador. "É
um fato extraordinário, Lamarca será conhecido pelas novas
gerações."
José Dirceu, ministro da Casa Civil no governo Lula, saudou ontem em seu blog a medida. "Essa decisão promove um
resgate histórico do papel de
Lamarca na luta contra a ditadura militar e faz justiça aos
seus familiares. É um passo importante no reencontro do Brasil com a sua história."
Análise
Especialistas ouvidos pela
Folha ontem disseram que a
decisão tomada pela Comissão
de Anistia é estranha.
"É uma recompensa a quem
queria instaurar uma ditadura
socialista no Brasil, Lamarca
não combateu em nome da democracia", diz o cientista político Leôncio Martins Rodrigues. "Os militares ganharam
naquela época, mas perderam a
batalha ideológica."
Marco Antonio Villa, professor de história da Universidade
Federal de São Carlos, diz que a
decisão pode "desmoralizar" a
história brasileira.
"Se a família sofreu, não vejo
problema, é justo. O problema é
que a esquerda brasileira fez
uma opção equivocada. Em vez
de rediscutir aquele momento
histórico, preferiu fazer um
acerto de contas financeiro",
diz Villa. "Há uma desmoralização da história brasileira.
Quem ganha indenização é o
"andar de cima". Os pobres não
recebem nada, ou quase nada.
Virou uma "boquinha"."
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