São Paulo, quinta-feira, 14 de junho de 2007

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Medida de comissão provoca reações opostas

DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão da Comissão de Anistia sobre Carlos Lamarca provocou reações antagônicas entre pessoas que tiveram participação no regime militar ou estudaram o período.
"É inconcebível. [Lamarca foi] um homem que, na sua luta, matou um filho do povo, da PM", diz Jarbas Passarinho, coronel da reserva, ex-ministro da Educação (governo Emílio Garrastazu Médici) e da Previdência Social (governo João Baptista Figueiredo), ambos durante o regime militar.
"Lamarca matou um rapaz que se apresentou voluntariamente para salvar seus soldados. A impressão é que se está numa república democrática popular", finalizou.
O historiador Jacob Gorender fez oposição ao regime militar no PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário). Autor do livro "Combate nas Trevas", sobre a esquerda brasileira na ditadura, ele afirma que a medida tem um significado "extraordinário".
"Nossa população vai entender muito bem essa indenização, ele está na memória do povo como um rebelde, um insurreto", aponta o historiador. "É um fato extraordinário, Lamarca será conhecido pelas novas gerações."
José Dirceu, ministro da Casa Civil no governo Lula, saudou ontem em seu blog a medida. "Essa decisão promove um resgate histórico do papel de Lamarca na luta contra a ditadura militar e faz justiça aos seus familiares. É um passo importante no reencontro do Brasil com a sua história."

Análise
Especialistas ouvidos pela Folha ontem disseram que a decisão tomada pela Comissão de Anistia é estranha.
"É uma recompensa a quem queria instaurar uma ditadura socialista no Brasil, Lamarca não combateu em nome da democracia", diz o cientista político Leôncio Martins Rodrigues. "Os militares ganharam naquela época, mas perderam a batalha ideológica."
Marco Antonio Villa, professor de história da Universidade Federal de São Carlos, diz que a decisão pode "desmoralizar" a história brasileira.
"Se a família sofreu, não vejo problema, é justo. O problema é que a esquerda brasileira fez uma opção equivocada. Em vez de rediscutir aquele momento histórico, preferiu fazer um acerto de contas financeiro", diz Villa. "Há uma desmoralização da história brasileira. Quem ganha indenização é o "andar de cima". Os pobres não recebem nada, ou quase nada. Virou uma "boquinha"."


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