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Petrobras paga R$ 4 milhões a produtoras ligadas ao PT
Projetos sem licitação foram autorizados por funcionário demitido sob suspeita de desvio
Empresa está analisando contratos com produtoras que atuaram em campanhas de Jaques Wagner (PT-BA) e de duas prefeitas petistas
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
HUDSON CORRÊA
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
Duas produtoras de vídeo
que trabalharam nas campanhas do governador Jaques
Wagner (PT-BA) e de duas prefeitas do PT receberam R$ 4
milhões da Petrobras em 2008,
sem licitação, em projetos autorizados por Geovane de Morais, demitido por justa causa
por suspeitas de desvio de recursos nos contratos sob sua
responsabilidade.
Baiano de Paramirim, Morais é ligado ao grupo político
petista oriundo do movimento
sindical de químicos e petroleiros do Estado, do qual fazem
parte Wagner e Rosemberg
Pinto, assessor especial do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, também da Bahia.
Morais era o gerente de Comunicação da área de Abastecimento. Sob sua administração
estava um orçamento no ano
passado de R$ 31 milhões.
Sua demissão foi decidida em
3 de abril, após uma sindicância
interna ter constatado uma série de irregularidades em sua
gestão, incluindo "indícios de
pagamentos sem a devida entrega de serviços contratados".
Ou seja, desvio de dinheiro.
Dada a gravidade do caso, a
comunicação institucional da
Petrobras está analisando todos os contratos autorizados
por Morais, incluindo os repasses para as duas produtoras.
A Folha teve acesso a todos
os contratos de 2008 da área
comandada por Morais. Entre
os valores recebidos pelas duas
produtoras, está R$ 1,5 milhão
para filmagem de festas de São
João e Carnaval na Bahia.
Há também trabalhos como
telerreportagem sobre "o primeiro ponto de solda" de um
gasoduto em Catu (BA), pelo
qual embolsaram R$ 60 mil.
A apuração sobre Morais começou por iniciativa de sua superiora hierárquica, Venina
Velosa da Fonseca, gerente-executiva da área de Abastecimento. A direção da estatal
criou, em 5 de dezembro, uma
comissão para investigar Morais, tendo indicado Rosemberg Pinto como coordenador
da equipe. Em menos de duas
semanas, Rosemberg entregou
relatório, concluindo que Morais não havia respeitado normas de contratação e de gastos.
Não satisfeita, Venina criou
uma nova comissão para investigar a administração de Morais. Desta vez, apontou os indícios de desvio de recursos.
Com base no relatório da
equipe de Venina, o departamento jurídico da Petrobras
concluiu que era o caso de demitir Morais por justa causa. A
demissão foi informada a ele,
mas ainda não foi consumada
por ele estar de licença médica
desde o final de 2008. Morais
não foi localizado pela Folha.
As produtoras Movimento e
M&V têm ligações com o PT
baiano há ao menos cinco anos.
Ambas têm o mesmo dono,
Vagner Angelim, e endereço,
em Salvador. O empresário, porém, se recusa a falar qualquer
coisa sobre a M&V, como se ela
não existisse.
Angelim trabalhou na vitoriosa campanha de Wagner ao
governo da Bahia, em 2006.
Pessoas próximas ao empresário afirmaram que ele é amigo do governador. A assessoria
de Wagner, porém, diz que eles
têm só uma "relação comercial" da época de campanha.
Em 2004, a Movimento Produções doou R$ 2.500 dos R$
5.522 arrecadados pela campanha a vereador do funcionário
da Petrobras Moisés Rocha
(PT), amigo de Morais.
Rocha afirmou à Folha que a
doação foi intermediada pelo
seu atual chefe de gabinete,
Adilton Aguiar, que trabalhou
na área de comunicação da Petrobras e conhecia a produtora.
Ainda em 2004, a Movimento foi contratada por R$ 4.000
pela candidata petista Moema
Gramacho, eleita prefeita de
Lauro de Freitas. No ano passado, a empresa foi contratada
por R$ 300 mil pelo comitê de
Maria do Carmo (PT), eleita
prefeita de Betim (MG).
Não há registro na Justiça
Eleitoral da contratação dessas
empresas nem de doações para
candidatos de outros partidos.
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