LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-prefeito Paulo Maluf (PP) disse ontem que a aprovação das contas da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), pelo TCM (Tribunal de Contas do Município) partiram de um "troca-troca" entre a prefeitura e o tribunal.
"É lastimável porque houve um troca-troca no apagar das luzes", disse Maluf, candidato a prefeito.
O ex-prefeito relacionou diretamente a aprovação das contas de 2003, anunciada anteontem, a um projeto votado na semana passada pela Câmara Municipal que permitiu ao TCM a criação de 114 cargos de comissão -que podem ser nomeados sem a necessidade de concurso público.
"Honestamente, acho que o TCM tem funcionários até sobrando", disse Maluf. "E depois vem o tribunal e diz o seguinte: "[A prefeitura] tem um déficit de R$ 600 milhões, mas deixa para o próximo prefeito regularizar." Quer dizer, é o Maluf eleito que vai ter de fazer todo o esforço para tapar o buraco financeiro que estão deixando?".
As críticas a Marta marcam uma mudança na estratégia malufista. Até então, ele vinha poupando a petista e dirigindo seus ataques a José Serra (PSDB). A avaliação era que Maluf teria mais chances se chegasse ao segundo turno da eleição com Marta, com quem compartilha um alto índice de rejeição. Ontem, ele não falou de Serra nem dos tucanos.
A mudança ocorreu após Marta enviar, na semana passada, dois funcionários da prefeitura à Suíça, para levantar informações sobre as contas milionárias creditadas a Maluf no exterior.
As contas da gestão petista foram aprovadas com restrições pelo TCM. Auditores constataram, por exemplo, que Marta não aplicou o mínimo previsto em lei no ensino fundamental nem na educação para o trânsito. As falhas, no entanto, não justificariam a rejeição, segundo o próprio órgão.
"Isso para mim é uma irresponsabilidade", disse Maluf, que atribuiu a responsabilidade pela "aprovação equivocada" aos auxiliares do TCM. "Não posso acusar sem provas, mas que é suspeito de troca-troca, isso é."
Disposto a criticar Marta, Maluf respondeu com ironia ao falar das obras do PT na capital. "Que obras? Você está falando de duas pinguelinhas?" Pinguela é o tronco usado de forma improvisada como ponte.
"Para quem, como eu, construiu oito túneis e 250 mil casas populares, essas duas pinguelinhas na avenida Faria Lima são obras pequenininhas."

Condenações
Enquanto criticava a prefeita Marta Suplicy, Maluf sofreu ontem uma decisão desfavorável na Justiça Eleitoral, ainda em primeira instância.
O juiz auxiliar da propaganda eleitoral da 1ª Zona Eleitoral, Paulo Galizia, condenou o candidato ao pagar uma multa de R$ 21,28 mil por propaganda antecipada.
A candidata Luiza Erundina (PSB) também foi condenada ontem a pagar uma multa no mesmo valor, sob a mesma acusação. A condenação foi dada pelo juiz Roberto Maia Filho.
As ações foram propostas pelo promotor Saad Mazloum. Maluf e Erundina são acusados de usar o horário destinado a seus respectivos partidos, em maio e junho, para fazer propaganda pessoal. Cabe recurso ao TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral).
Advogados do ex-prefeito afirmaram que não existe irregularidades e irão recorrer da decisão.
A coordenação de comunicação da campanha de Erundina nega que ela tenha feito propaganda antecipada. Diz que ela falava na televisão como ex-prefeita de São Paulo. A assessoria jurídica do PSB informou que tomaria providências assim que tomasse conhecimento da condenação.