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ELIO GASPARI
Intervir nos planos de saúde é bom remédio
A Fenaseg (Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados) divulgou um
comunicado informando que
apóia a política de seus associados de impor aos fregueses de
seus planos de saúde aumentos
de até 80%. Dando bois aos nomes, os principais associados
são o Bradesco e a Sul América.
Foi essa a sua linguagem:
"É justo, razoável e adequado
que os usuários paguem pelo
uso do serviço contratado. Se isso não acontecer, a onerosidade
excessiva desses contratos poderá comprometer a continuidade
do atendimento".
Não é justo, razoável nem
adequado que uma corporação
empresarial argumente com a
choldra ameaçando-a com a
suspensão do atendimento. Greve de empresas de saúde? Ver
para crer.
Não é justo, razoável nem
adequado que uma federação
de empresários use uma linguagem intimidadora para justificar aumentos de até 80% em seguros de saúde junto a pessoas
que são freguesas de seus planos
há décadas. Não é justo, razoável nem adequado que a Fenaseg fale dessa forma com a patuléia, livrando a Sul América e o
Bradesco do desconforto de encarar suas clientelas, junto às
quais gastam bom dinheiro na
fabricação de selos politicamente corretos.
Não seria justo, razoável nem
adequado que empresas de seguro do Rio de Janeiro instituíssem uma caixinha paralela destinada a remunerar policiais
que localizassem carros roubados. Mesmo assim, a Fenaseg sabe que isso aconteceu. Também
não seria justo, razoável nem
adequado que as empresas continuassem pagando os jabaculês
a policiais que, com toda certeza, agenciavam os furtos para
receber propinas. Se a Fenaseg
quiser mais informações a respeito dessa maracutaia, pode
procurar o doutor Anthony Garotinho na Secretaria da Segurança do Rio de Janeiro. Ele denuncia esse conluio há tempo.
É justo, razoável e adequado
que os clientes dos planos de seguro-saúde da Sul América e do
Bradesco queiram receber de
volta um tratamento um pouco
melhor que aquele dispensado
pelas seguradoras aos ladrões de
automóveis e aos policiais de gibi. Se a Sul América e o Bradesco acreditam que essa é a maneira justa, razoável e adequada de falar a clientes que, em última análise, não têm dinheiro
para pagar os reajustes, então
que se jogue o jogo: as empresas
seguradoras de saúde devem ser
colocadas diante da possibilidade real de intervenção do governo em suas administrações.
É justo, razoável e adequado
que o ministro Humberto Costa
prepare uma força-tarefa com o
propósito de intervir nas empresas onde achar que essa é a providência necessária. É para isso
que o Estado existe. Ele é pago
pela choldra para defender seus
interesses. No limite, para intervir em seguradoras e empresas
de medicina privada que infelicitam seus clientes. Melhor isso
do que aporrinhar casas de bingo onde entra quem quer. Nesse
sentido, há mais simpatia na tavolagem do que entre os associados da Fenaseg. As casas de
jogo querem que os fregueses
voltem. Já as seguradoras e empresas do gênero preferem que
eles paguem as mensalidades
enquanto têm saúde e, quando
ficam doentes, aborreçam-se
com o mau atendimento e cancelem os contratos.
Pode-se dizer que a ameaça de
intervenção é um gesto populista. Melhor assim. Depois de oito
anos de tucanato do PSDB e 18
meses de tucanagem petista, talvez esse seja o melhor remédio.
Dois copos de populismo com
uma colher de sopa de demagogia poderão virar um jogo no
qual a plutogogia dá ao andar
de cima juros de 16%, ao de baixo, reajustes de 80%, e a Fenaseg ainda se sente no direito de
ameaçar quem reclama.
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