São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/COORDENAÇÃO POLÍTICA

Ministro diz conhecer o episódio "por dentro" e que não houve favorecimento nos R$ 5 milhões investidos pela Telemar na Gamecorp

Wagner defende filho de Lula e reeleição

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Jaques Wagner, novo coordenador político do governo, fez ontem uma defesa veemente de Fábio Lula da Silva, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, negando que ele tenha sido beneficiado em negócios particulares pelo seu parentesco.
Fábio é sócio da Gamecorp, que recebeu investimento de R$ 5 milhões da Telemar. A empresa de telefonia tem mais de 40 parceiros para produção de conteúdo para celulares, mas só mantém participação societária na Gamecorp.
"Sou pai e sei os filhos que tenho, como o presidente sabe os filhos que tem e evidentemente ninguém gosta que uma pessoa que está procurando se desenvolver e crescer seja tratada da forma como foi tratada", afirmou.
Ele diz haver "total lisura" no caso. "Essa ilação [sobre privilégio] todos podem fazer. Não precisa ser filho de um político, pode ser filho de uma pessoa famosa. Posso dizer que conheço o episódio por dentro e tenho absoluta tranqüilidade de que não houve nenhum tipo de favorecimento."
Na reunião ministerial que fez anteontem, Lula classificou, segundo relato de presentes, como "golpe baixo" e "baixaria" as reportagens sobre seu filho.
Jaques Wagner, que é do PT baiano, visitou ontem os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). O ministro substitui Aldo Rebelo (PC do B-SP) na coordenação política e chefiará uma pasta com o nome de Secretaria do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e de Relações Institucionais.
Ele também atacou a proposta de acabar com a reeleição para os cargos executivos e disse que no Palácio do Planalto ninguém cogita a hipótese de Lula abrir mão de tentar um novo mandato.
"O Congresso tem maturidade para não tentar o casuísmo de mudar a regra quando o jogo está sendo jogado", afirmou. "O candidato nosso para a presidência em 2006 é o presidente Lula", reforçou o ministro, que citou o fato de a imagem do presidente não ter sido abalada pela crise, segundo pesquisa CNT/Sensus.
"Não há o menor espaço para esse tipo de colocação. Ela é legítima de ser feita pela oposição, que reconhece nele um candidato fortíssimo à reeleição. Mas da parte do governo e do próprio presidente nunca ouvi essa conversa."
Desde o estouro da crise política, Lula tem dado sinais de que pode não tentar a reeleição e há inclusive uma incipiente conversa entre governo e oposição com o objetivo de acelerar a aprovação de projetos de emenda à Constituição para vetar a possibilidade de mandatos simultâneos para presidente, governadores e prefeitos. A reeleição no Executivo foi instituída em 1997.
Apesar de elogiar o antecessor e dizer que trabalhará em conjunto com Aldo Rebelo, que retoma o seu mandato de deputado, Wagner disse que pretende recuperar a relação "fio de bigode" com o Congresso, já que parte da crise entre Executivo e sua base no Legislativo ocorreria pelo não-cumprimento de promessas.
"Nesta Casa, o que vale é a garantia do "fio do bigode': compromisso assumido é compromisso cumprido. Vou pedir um voto de confiança", disse.
O ministro não descartou, por fim, a possibilidade de se candidatar ao governo da Bahia, o que contraria a regra declarada da reforma ministerial, a de que candidatos deveriam deixar o governo.


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