São Paulo, domingo, 14 de agosto de 2005

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"Doadoras" de Duda são ligadas a doleiro

ANDRÉA MICHAEL
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Deal Financial Corporation, uma das oito empresas virtuais que abasteceram com R$ 10,5 milhões a conta do publicitário Duda Mendonça no paraíso fiscal das Ilhas Bahamas, tem operações financeiras no exterior associadas ao doleiro de Belo Horizonte (MG) Haroldo Bicalho.
A conta da Deal, aberta num banco da Flórida, nos Estados Unidos, que transaciona com a offshore do doleiro de Minas Gerais é a mesma que enviou recursos para Duda Mendonça, conforme extratos que ele entregou à CPI dos Correios, na semana passada, em Brasília.
Segundo a CPI dos Correios, o doleiro Bicalho atuou para agências de publicidade do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza em operação de remessas para o exterior já detectadas pela CPI do Banestado.
O doleiro é um dos operadores da subconta Lonton Trading, instalada na conta-mãe da Beacon Hill Service Corporation, uma empresa de fachada que girou bilhões de dólares no Chase Manhattan em Nova York.
Bicalho foi preso durante a Operação Farol da Colina, da Polícia Federal, que prendeu 64 doleiros em julho de 2004. Ele foi denunciado pelo Ministério Público Federal pelos crimes de evasão fiscal e lavagem de dinheiro, e hoje sofre processo na Justiça Federal.
As operações que associam a Lonton à Deal somam US$ 863,11 mil entre 1999 e 2002 -o correspondente a quase 25% do total de US$ 3,56 milhões que a subconta girou no período.
Os registros dão consistência a trechos das afirmações que Duda Mendonça fez na CPI dos Correios. No depoimento, ele disse que Marcos Valério, ao fazer as remessas para sua conta nas Bahamas, já tinha montado um esquema de movimentação de dinheiro no exterior.
E essa engenharia acabou sendo utilizada para pagar os serviços que Duda Mendonça prestou ao PT em 2002 e 2003, em mais uma fatia do caixa dois das campanhas eleitorais petistas.

Movimentações
A base de dados do norte-americano MTB Bank associa à Deal Financial Corporation uma movimentação de US$ 13,9 milhões entre 1999 e 2003.
No registro das operações do MTB consta a conta da Deal Financial no banco BAC, de Miami.
Dessa conta também saiu pelo menos uma remessa de US$ 97.057 para a conta de Duda Mendonça, em 7 de maio de 2003, conforme documento que o publicitário apresentou à CPI dos Correios na última semana.
Na movimentação associada à Deal Financial no MTB essa mesma conta do BAC, de Miami, faz operações com a Azteca, uma conta operada por doleiros do Rio de Janeiro.
A Beacon Hill e o MTB são investigados pelas autoridades americanas por prática de lavagem de dinheiro. A empresa acabou fechada pela Promotoria nova-iorquina sob acusação de retransmissão ilegal de fundos. O banco, vendido.
Em 2003, a CPI do Banestado, que investigava prática de evasão de divisas e lavagem de dinheiro, conseguiu com as autoridades americanas acesso ao arquivo das operações financeiras da Beacon Hill e do MTB. As bases abrigam as operações associadas à Deal, que somam US$ 13,92 milhões entre 1999 e 2003.
A CPI dos Correios discute uma forma de rastrear os recursos sem origem identificada que chegaram à conta aberta por Duda Mendonça nas Bahamas, segundo ele, a pedido de Valério.

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