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DIPLOMACIA
País se sentiu preterido em negócio de US$ 359,3 mi com a França
Governo dos EUA ameaça
Brasil por licitação da PF
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
O governo dos Estados Unidos
está ameaçando interromper seus
esforços para que companhias
norte-americanas invistam no
Brasil se o governo brasileiro insistir em conceder à França, sem
licitação, um contrato de US$
359,3 milhões.
A ameaça está em uma carta do
embaixador David Aaron, subsecretário de Comércio Internacional do Departamento de Comércio norte-americano.
Aaron diz que a dispensa de licitação "cria a percepção de que fatores diferentes de preço, qualidade de tecnologia e financiamento
estejam sendo decisivos para a
concessão dos contratos".
Em seguida, vem a ameaça: "Essa percepção complica os nossos
esforços mútuos para encorajar as
companhias americanas a investir
no Brasil".
Datada de 19 de maio, a carta de
Aaron foi enviada ao ministro da
Justiça do Brasil, Renan Calheiros.
Os EUA pedem, de forma direta,
que o governo brasileiro faça uma
licitação internacional antes de
comprar os equipamentos para a
Polícia Federal.
Essas compras fazem parte dos
projetos Pró-Amazônia e Promotec. A Folha já havia revelado a
dispensa de licitação em sua edição de 19 de abril passado.
Depois da reportagem da Folha,
o caso foi embargado no Senado,
instância responsável pela autorização de financiamento externo
do governo. Os contratos definitivos ainda não foram assinados.
O TCU (Tribunal de Contas da
União) foi acionado para fazer
uma auditoria. Mesmo assim, a PF
continuou a ultimar os detalhes
para fazer a compra da França
Äna realidade, do governo francês, pois a empresa que intermediará o negócio é uma estatal francesa, a Sofremi.
O fato de a PF ter emitido sinais
de que pretende forçar a assinatura dos contratos com a França,
sem licitação, irritou o governo
norte-americano.
Ao ter acesso à carta de David
Aaron (uma cópia carimbada pela
PF), a Folha telefonou para a Embaixada norte-americana em Brasília para confirmar a autenticidade da correspondência.
Por intermédio da sua assessoria
de comunicação, a Embaixada dos
EUA confirmou a existência do
documento. Sem dizer se já obteve
resposta, a assessoria fez apenas
um comentário curto sobre o episódio: "Não há nada a acrescentar
ao que está contido na carta".
Essa compra do governo brasileiro é considerada, segundo a Folha apurou, uma compensação
para a França por causa do projeto
Sivam, de vigilância da Amazônia.
O Sivam custou US$ 1,4 bilhão e
foi entregue à norte-americana
Raytheon. Na época, o ano de 95, a
empresa francesa Thomson foi
preterida.
Apesar dos protestos da França,
e por pressão dos EUA, o projeto
Sivam teve uma tomada internacional de preços antes de o negócio ser concluído. Agora, o governo brasileiro não quis fazer essa
tomada de preços.
Por essa razão o governo dos
EUA resolveu protestar. Na sua
carta, o governo norte-americano
diz o seguinte:
"Eu acredito que o Brasil compartilha da importância que o governo dos EUA coloca em um processo de licitação pública internacional para grandes projetos como
esses".
Em tom seco e direto, a carta do
governo dos EUA sugere que falta
transparência no processo de concessão dos contratos do Pró-Amazônia e Promotec à França:
"Ao lançar uma licitação internacional (...), a PF e o povo brasileiro terão confiança de que a concessão desses contratos será resultado de um processo aberto,
transparente e competitivo".
No último parágrafo, uma frase
dá à carta dos EUA um tom semelhante ao de um ultimato:
"Eu espero que o sr. revise radicalmente esse assunto para garantir que todas as empresas interessadas tenham a permissão para
competir nesses projetos".
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