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JANIO DE FREITAS
Os preços e os votos
Com tantos e tamanhos problemas pelo país afora, o confronto entre os donos de supermercados e o ministro da
Justiça, em torno da ressurgida exigência de preço inscrito
em cada produto, parece apenas uma tentativa malsucedida de incluir algum riso na
sucessão de sustos, ameaças e
crises que por aqui se chama
de estabilidade.
É a polêmica mais relevante
do momento, porém. Suspeita,
por muita gente, de fabricada
para que o governo dê ao candidato Fernando Henrique
Cardoso um exemplo, pelo
menos um, de que contrariou
alguns empresários. Os que
têm tal desconfiança contam
com boa justificativa.
Por que exótico motivo, se
não por procura de possíveis
ações eleitoreiras, iria o governo fazer repentina sondagem de opinião pública para
saber o que pensam os consumidores sobre a presença de
preços só nas prateleiras, como hoje, ou em cada produto,
como era feito? Se queixas de
consumidores o motivassem,
não se explicaria que outras,
muito mais numerosas e graves, não o tenham feito até
hoje.
Com esses marqueteiros que
infestam e degradam as eleições, afastando cada vez mais
a democracia, convém admitir todas as piores hipóteses.
Mas os donos de supermercados, por sua vez, não precisam, também eles, alvejar os
cidadãos com imitações do
que fazem os marqueteiros
eleitorais.
Dizer, como fazem dirigentes da associação de supermercadistas, que a aposição
de preço nos produtos, por selo próprio ou no espaço do
código de barras (isso é usado
aqui e muito comum no exterior), causaria aumento de
5% nos preços em geral é supor que só os donos de supermercados não são idiotas. Suposição cuja falta de compostura é, por si só, sugestiva da
conveniência de prevenir-nos
contra preços adulterados.
Não é menos falsificante a
afirmação, que tem a mesma
origem, de que os consumidores podem comparar, nas caixas pagadoras, os preços aí
registrados e os indicados nas
prateleiras. Primeiro, quem
está comprando vários produtos não memoriza todos os
respectivos preços vistos nas
prateleiras. E, ainda que os
memorize, é vítima de um sistema que impede a verificação e beneficia o supermercado.
Os preços vão sendo registrados enquanto o consumidor transfere, do carrinho para o balcão de pagamento, as
suas compras, em seguida, para economia ainda maior do
supermercado, cada vez mais
é o próprio consumidor que
ensaca as compras, à medida
que são liberadas pela caixa.
Esse sistema é lucrativo para o
supermercado, mas contrário
à comparação entre os preços
nas prateleiras e no misterioso
código de barras que determina a conta do freguês.
No final do confronto é que
ficará nítido se o assunto do
governo é com os supermercados ou com o mercado de votos.
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