São Paulo, sexta, 14 de agosto de 1998

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Polícia procura o "Bill Gates' do caso

da Reportagem Local

A Polícia Civil de São Paulo suspeita que a prisão dos envolvidos no desvio de R$ 1 milhão da conta do PSDB pode levar a uma quadrilha especializada na movimentação de contas de campanha usando o computador.
As quatro pessoas presas há uma semana na capital paulista movimentando a conta para a qual o dinheiro foi transferido seriam apenas uma ponta do grupo, cujos chefes estão em Brasília e ainda não foram identificados.
"Eles são uns "zé mané', inocentes úteis. Entendem tanto de informática quanto eu", disse o delegado titular do Tatuapé (zona leste da capital), Roberto Carvalho, que efetuou a prisão. "Tem um "Bill Gates' nesta história, e ele está em Brasília", disse.
Esse especialista em informática, segundo o delegado, pode ser funcionário do Banco do Brasil ou estar ligado a alguém ali.
"A operação, temos quase certeza, foi efetuada dentro do CPD (Central de Processamento de Dados) do próprio banco."
Os membros da quadrilha presos em São Paulo, todos sem antecedentes criminais, teriam, de acordo com a polícia, até mesmo se assustado com o montante que foi transferido para a conta -R$ 503 mil, mais R$ 450 mil que foram para outra conta em Osasco.
Eles expuseram a surpresa ao contato que tinham em São Paulo, que, por sua vez, mantinha contatos telefônicos frequentes com duas pessoas em Brasília.
A polícia vai quebrar os sigilos dos números chamados para tentar chegar aos chefes da quadrilha.
Os cabeças da operação na capital federal teriam tranquilizado os cúmplices em São Paulo, falando da intenção de "pulverizar" a quantia, transferindo-a para várias contas, o que não foi feito porque a polícia paulista agiu antes, prendendo-os em flagrante na própria agência bancária.
A conta em Osasco, em nome de uma pessoa procurada pela Justiça e que não foi localizada, nem sequer chegou a ser movimentada.
Nomes falsos
Um dos contatos em Brasília também disse aos cúmplices paulistas que teria "uma função" no Senado, mas isso não foi confirmado pela polícia, que não descarta ainda a hipótese de que possa ser, inclusive, funcionário do comitê do PSDB.
"Encontramos os nomes deles na reserva de um vôo que vinha de Brasília para São Paulo, mas é possível que estejam usando nomes e documentos falsos", afirmou o delegado.
Se for comprovada a suspeita de crime eleitoral, a Polícia Federal será acionada para integrar as investigações. O contato do grupo em São Paulo chegou a declarar à polícia que costumava movimentar fundos de campanha, que trocava por dólares.
Os quatro presos em São Paulo, sem curso superior, continuarão detidos na delegacia do Tatuapé. O contato e outro suspeito foram indiciados, mas aguardam em liberdade. (CYNARA MENEZES)



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