São Paulo, Terça-feira, 14 de Setembro de 1999
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JUDICIÁRIO

Magistrados pedem investigação sobre assassinato de juiz de Mato Grosso

Associação quer processo no STJ

da Agência Folha, em Cuiabá

A Agência Folha apurou que a Polícia Federal encontrou um contrato na casa do empresário Josino Guimarães, preso desde a última sexta, que comprovaria que quem teria pago um imóvel, no valor de R$ 50 mil, foi o desembargador Odiles Freitas Souza.
A Justiça Federal decretou a quebra do sigilo fiscal de Guimarães. Ele foi acusado pelo juiz Leopoldino Marques do Amaral, encontrado assassinado no Paraguai. O advogado do empresário, Zoroastro Teixeira, afirmou que seu cliente é amigo do desembargador Souza. Disse desconhecer o contrato. Se existe, afirmou, deve ser referente a alguma dívida.
O desembargador Souza, 66, disse que conhece o empresário há oito anos e que não se lembra quando preencheu quatro cheques, "no valor total entre R$ 40 mil e R$ 50 mil", para Guimarães pagar a construção de uma casa. Segundo ele, os cheques foram um empréstimo e não doação.
Souza disse que as acusações de seu envolvimento com o tráfico de drogas foram um "ato desesperado" do juiz Amaral.
Isso aconteceu, na avaliação do desembargador, porque votou contra o afastamento de um juiz, "acusado, por meio de indícios, de envolvimento com o tráfico".
O juiz José Geraldo Palmeira está afastado desde 1996 por ser acusado de favorecer presos, em troca de dinheiro. O Ministério Público apura também seu envolvimento com o narcotráfico.
"Existe um mártir morto e vários mártires vivos. Eu nem posso cumprimentar meus amigos, acusado do que, em 35 anos de magistratura, sempre abominei, que é o tráfico", afirmou.
Souza tem a mulher e uma filha trabalhando no Tribunal de Justiça de Mato Grosso. Segundo ele, para cargos de confiança, "é preciso ter gente de confiança, como a família". Ele disse que seus parentes foram contratados, "mas depois estudaram e passaram nos concursos públicos". Na CPI do Judiciário, o juiz Amaral acusava os desembargadores de promoverem concursos públicos "para aprovar" seus familiares.

AMB
A AMB (Associação dos Magistrados do Brasil) pediu ontem ao Superior Tribunal de Justiça a abertura de um processo de investigação judicial para a apuração das denúncias feitas pelo juiz Leopoldino Marques do Amaral contra integrantes do Tribunal de Justiça de Mato Grosso.
O presidente da AMB, Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, afirmou que as investigações sobre a morte de Amaral devem continuar nas mãos da Polícia Federal. E as denúncias do juiz, no STJ.
As acusações atingem 16 integrantes do TJ. Sobre o presidente da instituição, Wandyr Clait Duarte, o juiz Amaral acusou o desembargador de ter contratado funcionária com objetivo sexual e manipulado julgamentos.
Uma fita que comprovaria pelo menos uma dessas acusações foi divulgada em um site de notícias de Cuiabá, que foi suspenso anteontem à noite por uma liminar (decisão provisória) judicial a pedido do presidente do TJ.
O site MidiaNews recebeu uma fita com gravação de uma conversa entre Duarte e o desembargador José Jurandir de Lima.
Na gravação, usada pela mulher do presidente do TJ em um processo de separação, Duarte disse a Lima que uma funcionária chamada Ticiana, que ""havia colocado na Corregedoria e estava cevando" para tentar conseguir uma relação sexual iria se casar.
Os proprietários do MidiaNews disseram que recorrerão à Justiça hoje para tentar cassar a liminar.
Interlocutor de Duarte, o desembargador Lima disse que não se lembra de tal conversa. Afirmou que se trata de uma gravação ilegal. Disse ainda que considera necessário perícia na fita para comprovar que não é a sua voz.


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