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QUESTÃO AGRÁRIA
FHC não atende ultimato de retirar tropas federais de fazenda; PM mineira faz apenas contato visual
Prazo de Itamar termina, e nada acontece
WILLIAM FRANÇA
ENVIADO ESPECIAL A BURITIS
Terminado o prazo do ultimato
do governador de Minas Gerais,
Itamar Franco, a fazenda dos filhos do presidente Fernando
Henrique Cardoso continuava
guardada ontem por tropas federais. A Polícia Militar de Minas
Gerais demorou 32 horas para fazer o primeiro contato -que foi
apenas visual- com o acampamento dos sem-terra instalado
em frente ao portão principal da
fazenda Córrego da Ponte. Às 10h
da manhã, um helicóptero azul e
branco, com as inscrições "Polícia
Militar", fez um sobrevôo rápido
sobre a área.
No final da tarde, o helicóptero
retornou e pousou na parte interna da fazenda. Até o fechamento
desta edição, não foram repassadas informações sobre as negociações entre a PM e o comando
do Exército, que permitiriam a
troca da vigilância das terras da
família de FHC.
Às 15h, outro helicóptero, vindo
diretamente de Belo Horizonte,
trouxe três enviados especiais de
Itamar (sem partido) com a missão de ouvir os sem-terra. Eles se
reuniram, em separado, durante
quase uma hora.
Ao final, o superintendente do
Instituto de Terras de Minas Gerais, Marcelo Resende, disse ter
deixado o encontro "convencido
de que o MST não tem nenhum
interesse em invadir a fazenda do
presidente". "Muito pelo contrário: é apenas uma forma de mobilização."
Antes de deixar a área, Resende
participou de um pequeno comício organizado pelos sem-terra e
fez críticas a FHC e ao ministro
Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) -a quem acusou de
ser responsável pela intransigência com o movimento. Disse que o
governo mineiro atenderá às reivindicações que lhe compete, como o aumento do valor do crédito
para a construção de fábricas de
fundo de quintal.
Após o encontro, o líder do
MST no acampamento, Lucídio
Ravanello, mudou o discurso de
anteontem e afirmou que o movimento não tem mais interesse em
invadir a fazenda dos filhos de
FHC. "Não vamos entrar na provocação do governo federal. É
uma cilada deles", afirmou.
Ravanello criticou também o
ministro Jungmann. "Queremos
saber onde está o decreto que instala o Estado de Sítio no país e que
nos impede agora até de fazer vigílias. O ministro está indo para o
campo da provocação e podemos
ter reações de desespero", afirmou o líder do MST, dizendo que
as reações podem ocorrer em
qualquer lugar do país.
Para ele, a disputa política entre
Itamar e FHC não interessa ao
movimento dos sem-terra. Mas
disse concordar com Itamar e
afirma que foi uma "ação irresponsável" do governo federal de
deslocar o Exército na fazenda.
Descanso
Nada aconteceu na área da fazenda Córrego da Ponte às 6h de
ontem, prazo estabelecido como
limite pelo governador Itamar
Franco para que as tropas federais
"deixassem" o Estado. Apenas a
intensa movimentação dos jornalistas e dos sem-terra, que preparavam o café da manhã, marcou o
horário.
A Folha apurou que um grupo
de 15 oficiais da PM mineira foi
deslocado de Belo Horizonte anteontem e estava hospedada num
hotel na cidade de Buritis, distante 70 km da fazenda.
Apesar do "ultimato" dado por
Itamar fosse até as 6h, alguns oficiais pediram à recepção do hotel
para que fossem acordados somente às 7h45. O descanso prolongado foi interrompido para
uma reunião no quartel da PM.
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