São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 2000

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QUESTÃO AGRÁRIA
FHC não atende ultimato de retirar tropas federais de fazenda; PM mineira faz apenas contato visual
Prazo de Itamar termina, e nada acontece

WILLIAM FRANÇA
ENVIADO ESPECIAL A BURITIS

Terminado o prazo do ultimato do governador de Minas Gerais, Itamar Franco, a fazenda dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso continuava guardada ontem por tropas federais. A Polícia Militar de Minas Gerais demorou 32 horas para fazer o primeiro contato -que foi apenas visual- com o acampamento dos sem-terra instalado em frente ao portão principal da fazenda Córrego da Ponte. Às 10h da manhã, um helicóptero azul e branco, com as inscrições "Polícia Militar", fez um sobrevôo rápido sobre a área.
No final da tarde, o helicóptero retornou e pousou na parte interna da fazenda. Até o fechamento desta edição, não foram repassadas informações sobre as negociações entre a PM e o comando do Exército, que permitiriam a troca da vigilância das terras da família de FHC.
Às 15h, outro helicóptero, vindo diretamente de Belo Horizonte, trouxe três enviados especiais de Itamar (sem partido) com a missão de ouvir os sem-terra. Eles se reuniram, em separado, durante quase uma hora.
Ao final, o superintendente do Instituto de Terras de Minas Gerais, Marcelo Resende, disse ter deixado o encontro "convencido de que o MST não tem nenhum interesse em invadir a fazenda do presidente". "Muito pelo contrário: é apenas uma forma de mobilização."
Antes de deixar a área, Resende participou de um pequeno comício organizado pelos sem-terra e fez críticas a FHC e ao ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) -a quem acusou de ser responsável pela intransigência com o movimento. Disse que o governo mineiro atenderá às reivindicações que lhe compete, como o aumento do valor do crédito para a construção de fábricas de fundo de quintal.
Após o encontro, o líder do MST no acampamento, Lucídio Ravanello, mudou o discurso de anteontem e afirmou que o movimento não tem mais interesse em invadir a fazenda dos filhos de FHC. "Não vamos entrar na provocação do governo federal. É uma cilada deles", afirmou.
Ravanello criticou também o ministro Jungmann. "Queremos saber onde está o decreto que instala o Estado de Sítio no país e que nos impede agora até de fazer vigílias. O ministro está indo para o campo da provocação e podemos ter reações de desespero", afirmou o líder do MST, dizendo que as reações podem ocorrer em qualquer lugar do país.
Para ele, a disputa política entre Itamar e FHC não interessa ao movimento dos sem-terra. Mas disse concordar com Itamar e afirma que foi uma "ação irresponsável" do governo federal de deslocar o Exército na fazenda.

Descanso
Nada aconteceu na área da fazenda Córrego da Ponte às 6h de ontem, prazo estabelecido como limite pelo governador Itamar Franco para que as tropas federais "deixassem" o Estado. Apenas a intensa movimentação dos jornalistas e dos sem-terra, que preparavam o café da manhã, marcou o horário.
A Folha apurou que um grupo de 15 oficiais da PM mineira foi deslocado de Belo Horizonte anteontem e estava hospedada num hotel na cidade de Buritis, distante 70 km da fazenda.
Apesar do "ultimato" dado por Itamar fosse até as 6h, alguns oficiais pediram à recepção do hotel para que fossem acordados somente às 7h45. O descanso prolongado foi interrompido para uma reunião no quartel da PM.


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