São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 2000

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Movimentação assusta os sem-terra

DO ENVIADO A BURITIS

A movimentação da tropa do Exército no interior da fazenda Córrego da Ponte, de propriedade dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso, em Buritis (MG), assustou os sem-terra que permanecem acampados em frente à porteira principal da fazenda desde a madrugada de terça-feira. Eles decidem hoje quando desmontarão o acampamento.
Ontem pela manhã, os sem-terra decidiram caminhar em direção ao portão lateral da fazenda (distante cerca de quatro quilômetros do principal), onde fariam um ato com discursos de protesto contra o uso das forças federais para vigiar a fazenda. O portão lateral está sendo usado pelos funcionários e fornecedores como passagem alternativa e é vigiado por soldados do Batalhão da Guarda Presidencial, do Exército.
Depois que os sem-terra haviam se afastado aproximadamente um quilômetro do acampamento, caminhões com soldados foram vistos na estrada que dá acesso à porteira principal.
O deslocamento da tropa -que até então permanecia no interior da fazenda- desencadeou um boato de que o Exército iria aproveitar a ausência deles para desmanchar os barracos de lonas e, assim, encerrar o movimento.
O temor fez com que os sem-terra voltassem correndo, pois muitas mulheres e crianças permaneciam nos barracos. Foi formado um princípio de tumulto entre os próprios manifestantes, controlado pelas lideranças.
A movimentação foi acompanhada por dez agentes do Comando de Operações Táticas (COT), da Polícia Federal, fortemente armados. Eles ficaram a 50 metros dos manifestantes. O Exército manteve-se a pelo menos 500 metros deles.
A Folha apurou que a idéia inicial dos manifestantes era atrair os soldados do Exército para bem próximo da cerca e, assim, produzir imagens deles com armas pesadas "enfrentando" os sem-terra, com suas tradicionais foices e enxadas. A proposta acabou não sendo concretizada.
O ato de protesto acabou sendo transferido para a porteira principal. "Exército é para as fronteiras e não para as porteiras", gritavam os manifestantes. Alguns exibiam cartazes com críticas à política social do governo.
O porta-voz do Exército na operação, major Luís Cláudio Gudin, disse que "não há ordem ou idéia de atrito ou confronto" com o MST. "A ordem até agora é apenas a de impedir uma invasão", afirmou o major, negando a idéia de derrubada dos barracos.
O Exército mantém 295 homens, em 22 veículos, na área. Eles usam principalmente equipamentos antidistúrbios, como gás lacrimogêneo, cassetetes e escudos. Também têm 15 cães treinados e armamento pesado, como fuzis e metralhadoras.
"Mas só iríamos reagir com tiros caso fôssemos primeiro atingidos -o que não parece ser o caso", afirmou. (WF)


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