DOS ENVIADOS A BURITIS

O administrador da fazenda Córrego da Ponte, Wander Gontijo, 41, disse ontem que os moradores da região estão evitando usar a estrada ocupada pelos sem-terra por medo de saques. "Quem não conhece fica com medo de o pessoal saquear", afirmou.
Os integrantes do MST estão acampados na estrada de terra que liga a cidade de Buritis ao distrito de Serra Bonita. A estrada tem cerca de 80 quilômetros e corta várias fazendas que produzem soja, algodão e arroz e têm pastagem para gado.
Em novembro do ano passado, durante a primeira tentativa de invasão da área, os sem-terra saquearam um caminhão com sementes que seriam utilizadas na fazenda dos filhos de FHC. "Esse saque acabou sujando a imagem deles", afirmou Gontijo.
Ontem, Gontijo desviou uma carga de adubo de galinha para o portão lateral, que está sendo controlada pelo Exército.
Também desviaria uma carga de canos para irrigação, prevista para chegar à tarde. "Há um medo de o pessoal pegar a carga, pois eles são na maioria jovens e impulsivos", afirmou.
O líder do acampamento do MST, Lucídio Ravanello, 35, classificou de "lamentável e absurda" a afirmação do administrador da fazenda.
Segundo ele, o movimento é pacífico, tem um objetivo político específico e não pretende atingir outros proprietários da região.
Como prova, Ravanello citou a liberação, sem nenhum problema, de dois caminhões carregados de soja que passaram pelos manifestantes durante a tentativa de passeata deles, ontem pela manhã. Os caminhões só tiveram de aguardar o recuo dos sem-terra, que abriram caminho.
Gontijo disse que hoje pretende voltar a usar a porteira principal para a entrada de mercadorias. "A vida tem de voltar ao normal."
A filha de FHC, Luciana Cardoso -que trabalha como secretária pessoal do pai, no Palácio do Planalto-, tem ligado várias vezes ao dia para Gontijo para saber se houve o registro de incidentes na área. "Ela não quer que aconteça nada com os manifestantes", afirmou o administrador.

Tropa
Uma tropa da Polícia Militar de Minas Gerais ocupou ontem a sede do Clube Esportivo e Recreativo de Buritis à espera de uma ordem para se deslocar para a fazenda dos filhos de FHC.
Os oficiais mais graduados, que estão instalados no Hotel Plaza, faziam questão de manter o silêncio determinado pelo governador. "Nada a declarar. É a frase que os políticos dizem, não?", afirmou o coronel Antoninho de Oliveira, subcomandante da PM mineira, que está coordenando a tropa em Buritis.
Ele se negou a dizer o número de militares que chegariam à cidade. Ontem, ainda eram esperados grupos de policiais de Unaí e Belo Horizonte. (WF e SN)


Texto Anterior: Movimentação assusta os sem-terra
Próximo Texto: Sem-terra e governo caem em impasse
Índice