São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 2000

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QUESTÃO AGRÁRIA
Jungmann diz que só receberá o movimento depois da desocupação de área próxima à fazenda
Sem-terra e governo caem em impasse

DANIELA NAHASS
WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A negociação entre o governo e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra chegou a um impasse. O ministro Raul Jungmann disse que só receberá o MST depois que os sem-terra desocuparem a área próxima à fazenda Córrego da Ponte, dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso, em Buritis.
Já os líderes do movimento afirmam que só vão sair da área quando o ministro Jungmann recebê-los em audiência. Gilberto Portes, um dos líderes do MST, disse que não há motivo para o governo vincular a abertura do diálogo com a desocupação da área próxima à fazenda de FHC: "Não invadimos a fazenda. Estamos acampados na estrada, que é pública e não está fechada".
Portes disse que o MST fez um gesto importante ontem ao desocupar os prédios do Incra. "O governo tem de nos dar uma resposta oficial, mesmo que não for nos receber", afirmou.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, recusou-se ontem a receber representantes do MST. "Enquanto estiverem lá não tem conversa", afirmou, referindo-se à fazenda dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso em Buritis.
Jungmann avaliou que o MST está passando por um processo de crescente isolamento e de perda de credibilidade, em virtude da "repetição da estratégia de invadir prédios públicos".
Portes respondeu dizendo que o movimento não está preocupado com a popularidade e sim com a viabilidade da reforma agrária: "O governo mentiu ao dizer que está fazendo reforma agrária. Mentiu para o MST, para a CNBB e para a sociedade brasileira".
Segundo o líder do MST, o governo está voltando atrás em vários pontos negociados anteriormente. Como exemplo, citou a concessão de um crédito de R$ 2 mil a 110 famílias de assentados.
Jungmann disse que uma das principais reivindicações do MST (a concessão de empréstimos a famílias assentadas a juros de 1% ao ano) será discutida hoje em reunião no Palácio do Planalto, mas que não será atendida, por falta de verbas. Segundo ele, o governo não pode arcar com o impacto fiscal desse tipo de empréstimo, mas pode ampliar o volume de recursos que são emprestados com juros de 3% ao ano.
Jungmann admitiu que há dificuldade de liberar recursos para os programas do seu ministério, mas afirmou que isso não justifica a invasão de prédios públicos.
O ministro afirmou que só receberá o MST depois que todos os prédios do Incra forem desocupados e a segurança da fazenda Córrego da Ponte estiver garantida. Ele não aceita nem mesmo as vigílias que estão sendo programadas pelos sem-terra.
"O que eles chamam de vigília eu chamo de chantagem. Uma negociação depende de confiança e respeito", disse. Segundo ele, a vigília o deixaria "diminuído e fragilizado" numa mesa de negociação. Jungmann se reuniu de manhã no Palácio do Planalto com os ministros Alberto Cardoso (Segurança Institucional) e Aloysio Nunes Ferreira (Secretaria Geral da Presidência).
Gilberto Portes respondeu as declarações de Jungmann de que o movimento está fazendo chantagem. "O ministro quer caluniar o MST porque não deu resposta à nossa pauta de reivindicações. Se ele tivesse moral ou vergonha na cara iria até um acampamento para ver um pai de família que está com a terra pronta e não tem dinheiro para comprar semente ou adubo para plantar", disse.


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