|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUESTÃO AGRÁRIA
Jungmann diz que só receberá o movimento depois da desocupação de área próxima à fazenda
Sem-terra e governo caem em impasse
DANIELA NAHASS
WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A negociação entre o governo e
o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra chegou a um
impasse. O ministro Raul Jungmann disse que só receberá o
MST depois que os sem-terra desocuparem a área próxima à fazenda Córrego da Ponte, dos filhos do presidente Fernando
Henrique Cardoso, em Buritis.
Já os líderes do movimento afirmam que só vão sair da área
quando o ministro Jungmann recebê-los em audiência. Gilberto
Portes, um dos líderes do MST,
disse que não há motivo para o
governo vincular a abertura do
diálogo com a desocupação da
área próxima à fazenda de FHC:
"Não invadimos a fazenda. Estamos acampados na estrada, que é
pública e não está fechada".
Portes disse que o MST fez um
gesto importante ontem ao desocupar os prédios do Incra. "O governo tem de nos dar uma resposta oficial, mesmo que não for nos
receber", afirmou.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, recusou-se ontem a receber representantes do MST. "Enquanto estiverem lá não tem conversa", afirmou, referindo-se à fazenda dos
filhos do presidente Fernando
Henrique Cardoso em Buritis.
Jungmann avaliou que o MST
está passando por um processo de
crescente isolamento e de perda
de credibilidade, em virtude da
"repetição da estratégia de invadir
prédios públicos".
Portes respondeu dizendo que o
movimento não está preocupado
com a popularidade e sim com a
viabilidade da reforma agrária:
"O governo mentiu ao dizer que
está fazendo reforma agrária.
Mentiu para o MST, para a CNBB
e para a sociedade brasileira".
Segundo o líder do MST, o governo está voltando atrás em vários pontos negociados anteriormente. Como exemplo, citou a
concessão de um crédito de R$ 2
mil a 110 famílias de assentados.
Jungmann disse que uma das
principais reivindicações do MST
(a concessão de empréstimos a famílias assentadas a juros de 1% ao
ano) será discutida hoje em reunião no Palácio do Planalto, mas
que não será atendida, por falta de
verbas. Segundo ele, o governo
não pode arcar com o impacto fiscal desse tipo de empréstimo, mas
pode ampliar o volume de recursos que são emprestados com juros de 3% ao ano.
Jungmann admitiu que há dificuldade de liberar recursos para
os programas do seu ministério,
mas afirmou que isso não justifica
a invasão de prédios públicos.
O ministro afirmou que só receberá o MST depois que todos os
prédios do Incra forem desocupados e a segurança da fazenda Córrego da Ponte estiver garantida.
Ele não aceita nem mesmo as vigílias que estão sendo programadas
pelos sem-terra.
"O que eles chamam de vigília
eu chamo de chantagem. Uma
negociação depende de confiança
e respeito", disse. Segundo ele, a
vigília o deixaria "diminuído e
fragilizado" numa mesa de negociação. Jungmann se reuniu de
manhã no Palácio do Planalto
com os ministros Alberto Cardoso (Segurança Institucional) e
Aloysio Nunes Ferreira (Secretaria Geral da Presidência).
Gilberto Portes respondeu as
declarações de Jungmann de que
o movimento está fazendo chantagem. "O ministro quer caluniar
o MST porque não deu resposta à
nossa pauta de reivindicações. Se
ele tivesse moral ou vergonha na
cara iria até um acampamento
para ver um pai de família que está com a terra pronta e não tem
dinheiro para comprar semente
ou adubo para plantar", disse.
Texto Anterior: Vizinhos temem saque, diz funcionário Próximo Texto: MST anuncia desocupação de prédios do Incra Índice
|