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Itamar tira humor e duas noites de sono de FHC
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
A ameaça de Itamar Franco de
desapropriar a fazenda de familiares de Fernando Henrique Cardoso não piorou o humor do presidente, que simplesmente ignorou as últimas declarações do governador mineiro.
O humor de FHC já estava estragado de véspera. O ultimato
feito por Itamar para que o governo retirasse tropas federais da fazenda Córrego da Ponte deixou o
presidente ""irritadíssimo", relataram assessores que acompanharam até a madrugada de ontem a
redação da mais dura resposta de
FHC ao governador.
A ameaça de desapropriação foi
considerada mais um blefe de Itamar, assim como o ultimato dado
na véspera. Apesar de não ser levado a sério, esse ultimato foi entendido como o fim da possibilidade de diálogo entre FHC e seu
ex-chefe.
Itamar Franco chegara ao limite
da irresponsabilidade, na visão do
Planalto. Mas a falta de uma resposta dura por parte do presidente poderia ser interpretada como
sinal de fraqueza de FHC no exercício do poder, ainda de acordo
com a avaliação do governo.
O ministro Pimenta da Veiga
(Comunicações), mineiro e inimigo político de Itamar, queria
sangue na reunião que definiu os
termos da carta-resposta. Ele estimulou o presidente a usar palavras mais duras. Uma delas, especialmente burilada por FHC, foi
chamar de ""bazófia" a atitude do
governador de Minas.
Nem o ministro José Gregori
(Justiça), que resistira durante o
dia a medidas mais duras, como a
prisão de lideranças sem terra pela Polícia Federal, contemporizou
no encontro no Planalto em relação a Itamar Franco.
No entendimento do governo
-mantido ontem-, cabe ao governador mandar policiais militares cuidarem da segurança da fazenda dos familiares do presidente. Como Itamar não fez isso e
desprezou a ameaça de invasão
do MST, não havia alternativa senão o envio de tropas federais.
Embora radical no discurso,
FHC não desprezou o que se apresentava como um canal institucional de negociação entre o Palácio do Planalto e o Palácio da Liberdade. O caso Itamar encurtou
duas noites de sono de FHC. Na
madrugada de anteontem, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Carlos Velloso, tirou
FHC da cama depois de receber
um telefonema de Itamar, de
quem é amigo. Depois de desconsiderar ofícios do general Alberto
Cardoso (Segurança Institucional) e do diretor da Polícia Federal, Agílio Monteiro, o governador de Minas acionou Velloso para o que considerava um abuso de
autoridade FHC no Estado. As
tropas já estavam a caminho.
Na madrugada de ontem, Velloso chegou a colher a contrariedade de Itamar com a carta que recebera por fax de FHC. O máximo
que conseguiu foi a promessa do
governador de que evitaria um
confronto da PM com as tropas
federais.
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