São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 2000

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Itamar tira humor e duas noites de sono de FHC

SECRETÁRIA DE REDAÇÃO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

A ameaça de Itamar Franco de desapropriar a fazenda de familiares de Fernando Henrique Cardoso não piorou o humor do presidente, que simplesmente ignorou as últimas declarações do governador mineiro.
O humor de FHC já estava estragado de véspera. O ultimato feito por Itamar para que o governo retirasse tropas federais da fazenda Córrego da Ponte deixou o presidente ""irritadíssimo", relataram assessores que acompanharam até a madrugada de ontem a redação da mais dura resposta de FHC ao governador.
A ameaça de desapropriação foi considerada mais um blefe de Itamar, assim como o ultimato dado na véspera. Apesar de não ser levado a sério, esse ultimato foi entendido como o fim da possibilidade de diálogo entre FHC e seu ex-chefe.
Itamar Franco chegara ao limite da irresponsabilidade, na visão do Planalto. Mas a falta de uma resposta dura por parte do presidente poderia ser interpretada como sinal de fraqueza de FHC no exercício do poder, ainda de acordo com a avaliação do governo.
O ministro Pimenta da Veiga (Comunicações), mineiro e inimigo político de Itamar, queria sangue na reunião que definiu os termos da carta-resposta. Ele estimulou o presidente a usar palavras mais duras. Uma delas, especialmente burilada por FHC, foi chamar de ""bazófia" a atitude do governador de Minas.
Nem o ministro José Gregori (Justiça), que resistira durante o dia a medidas mais duras, como a prisão de lideranças sem terra pela Polícia Federal, contemporizou no encontro no Planalto em relação a Itamar Franco.
No entendimento do governo -mantido ontem-, cabe ao governador mandar policiais militares cuidarem da segurança da fazenda dos familiares do presidente. Como Itamar não fez isso e desprezou a ameaça de invasão do MST, não havia alternativa senão o envio de tropas federais.
Embora radical no discurso, FHC não desprezou o que se apresentava como um canal institucional de negociação entre o Palácio do Planalto e o Palácio da Liberdade. O caso Itamar encurtou duas noites de sono de FHC. Na madrugada de anteontem, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Carlos Velloso, tirou FHC da cama depois de receber um telefonema de Itamar, de quem é amigo. Depois de desconsiderar ofícios do general Alberto Cardoso (Segurança Institucional) e do diretor da Polícia Federal, Agílio Monteiro, o governador de Minas acionou Velloso para o que considerava um abuso de autoridade FHC no Estado. As tropas já estavam a caminho.
Na madrugada de ontem, Velloso chegou a colher a contrariedade de Itamar com a carta que recebera por fax de FHC. O máximo que conseguiu foi a promessa do governador de que evitaria um confronto da PM com as tropas federais.


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