São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 2000

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FOLHA ELEIÇÕES 2000

SÃO PAULO
Em reunião para organizar boca-de-urna, coligação de Luiza Erundina decide contratar 22,5 mil pessoas para distribuir 6 milhões de "santinhos" no dia do primeiro turno
PSB arma panfletagem ilegal, mostra fita

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

A coligação "São Paulo Somos Nós" pretende distribuir 6 milhões de panfletos para pedir votos para Luiza Erundina (PSB) em 1º de outubro, dia do primeiro turno das eleições municipais. São cinco panfletos para cada grupo de seis eleitores da capital.
A panfletagem no dia da eleição, apesar de comum, é proibida pela lei eleitoral, que a considera crime e prevê pena de detenção de até um ano para o infrator (veja quadro e leia texto ao lado).
A boca-de-urna envolveria 22,5 mil pessoas, muitas das quais usariam também máscaras com o rosto de Luiza Erundina.
Dos "boqueiros", 15 mil seriam pagos pela campanha de Erundina, recebendo R$ 20 cada um. Isso significa que a candidata, que orçou sua campanha em R$ 6,4 milhões, gastará R$ 300 mil -5% do total- com a boca-de-urna.
Os detalhes da articulação da mobilização constam de uma fita gravada obtida pela Folha. A gravação foi feita em um encontro restrito a membros dos partidos da coligação ocorrido no final da tarde de segunda em um hotel da rua Frei Caneca (região central).
Cerca de 200 pessoas -entre dirigentes partidários e presidentes de diretórios zonais das quatro legendas da coligação- participaram da reunião. A gravação foi feita por um desses filiados.
Ao ser informado de que a Folha possuía a fita do encontro, o empresário Emerson Kapaz, coordenador da campanha e candidato a vice da deputada, confirmou sua realização e defendeu a organização da boca-de-urna, dizendo que a prática é comum e que não planejá-la os deixaria em desvantagem (leia ao lado).
A reunião gravada é comandada por Sérgio Maranhão, que, segundo o próprio Kapaz, foi chamado pelo comando da campanha para coordenar a boca-de-urna "porque entende do assunto".
Na fita, indagado sobre a ilegalidade da ação por um dos filiados, Maranhão diz que haverá um "plantão com 41 advogados para socorrer os companheiros".
O material, continua ele, será distribuído aos diretórios zonais no dia 28 e deve chegar aos "boqueiros" no dia 30.

Cartada final
Maranhão abre o encontro falando em nome de Erundina e Kapaz e definindo a boca-de-urna como "uma das coisas mais importantes da campanha".
"Ela (a boca-de-urna) é absolutamente fundamental para levar Erundina ao segundo turno", diz ele. Em 1988, Erundina chegou ao dia da eleição alguns pontos atrás de Paulo Maluf, mas venceu.
O diagnóstico também tem relação com o pouco conhecimento que os eleitores demonstram do número da candidata -40. Na coligação, a avaliação é de que a boca-de-urna poderá evitar que potenciais eleitores digitem o número errado -sobretudo o 13, do PT, antigo partido de Erundina.
A boca-de-urna da coligação será dividida por zonas eleitorais, sob o comando dos diretórios zonais dos partidos. De acordo com a fala de Maranhão, ela deverá cobrir toda a cidade, mas será reforçada nas zonas onde Erundina teve as melhores votações em eleições passadas.
Dos 15 mil "boqueiros" pagos pela coligação, 7.500 distribuirão apenas o material de Erundina. Os outros 7.500 serão compartilhados com os 210 candidatos a vereador pelas legendas da coligação -PSB, PPS, PDT e PMN.
Para ter "boqueiros" da coligação, porém, o candidato deve oferecer uma contrapartida igual. Ou seja: poderá usar cem "boqueiros" da coligação se tiver outros cem para oferecer à campanha de Erundina. Nesse caso, os 200 distribuiriam o material do candidato à Câmara e de Erundina, elevando para 15 mil os compartilhados e somando 22,5 mil no total.

Reação
Diante da ilegalidade da ação, os coordenadores das campanhas dos principais adversários de Erundina não admitem que farão a conhecida panfletagem.
À Folha, o PFL de Romeu Tuma e o PT de Marta Suplicy afirmaram que se limitarão a fazer mobilizações nos dias que antecedem o pleito e a incentivar seus simpatizantes a usarem seus símbolos.
Tuma fará arrastões com milhares de pessoas pela cidade, "mas apenas até a véspera da eleição". Para integrar os "manifestantes silenciosos" do PT, haverá até banquinhas para inscrições e chamadas na televisão.
Os tucanos de Geraldo Alckmin são mais categóricos: prometem colocar 380 advogados atendendo em um 0800 para combater a boca-de-urna dos concorrentes.


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