São Paulo, sábado, 14 de setembro de 2002

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CAMPANHA

Presidente usa discurso para atacar Lula indiretamente e diz que "turbulência ameaça continuar por muito tempo"

FHC critica os que "gabam" o regime militar

LEILA SUWWAN
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

A três semanas das eleições, o presidente Fernando Henrique Cardoso elevou o tom da defesa de seu governo e atacou indiretamente o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em seminário de comemoração dos 50 anos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no Rio, disse não entender por que candidatos estão "gabando" o modelo do governo militar, que, para ele, criou uma máquina estatal "clientelística" e "mastodôntica".
Segundo ele, seu principal feito, o controle da inflação, ajudou a corrigir a corrupção endêmica, desconcentrar a renda e dar valor à renda dos trabalhadores, ainda que o aumento numérico não tenha sido o desejável. A queda de renda dos trabalhadores e a pequena queda da concentração de renda, foram as principais críticas que recebeu nesta semana.
Ainda sobre as eleições, FHC considerou "abstrato" o debate sobre a criação de empregos porque hoje não há um assunto mais concreto, uma "chaga aberta" para discutir. No plano global, o presidente lembrou que enfrentou cinco crises financeiras e disse não saber se as turbulências vieram para ficar, o que demandaria a continuidade de suas estratégias de desenvolvimento.
O presidente Fernando Henrique Cardoso argumentou que não destruiu a máquina estatal com a privatização -crítica frequente da oposição-, mas reorganizou o seu funcionamento.
FHC fez elogios à participação de movimentos sociais no processo democrático, mas chamou o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) de "agressivo".
Leia a seguir os principais trechos do discurso do presidente:
 

MILITARES - "Certamente, o planejamento do qual falo hoje, o próprio Ministério do Planejamento e Orçamento, não tem muito a ver com o planejamento do tempo dos governos militares. Diga-se de passagem, não sei porque estão gabando tanto esse planejamento hoje em dia. Eu já ouvi os candidatos falando com louvor, talvez porque não conheçam os meandros de como funcionavam as instituições."

QUEDA DA RENDA - "O simples fato de se estabilizar a moeda já gerou uma certa folga, porque não se trata apenas de ver numericamente se subiu ou não subiu a renda. É mais do que isso. A renda era fictícia no passado. Sumia, desaparecia. Rapidamente era consumida pela inflação a renda dos mais pobres."

REFORMA DO ESTADO - "Só aqueles que têm experiência direta com o aparelho de Estado se deram conta ou podem dar o testemunho a que grau nós chegamos de falta de capacidade de ter qualquer política, pela falta de informação, pela falta de estímulo, pela desorganização, e pela corrupção, tudo isso fruto de alguma maneira do processo inflacionário que durou algumas décadas."

PRIVATIZAÇÃO - "A despeito de ter havido um forte investimento privado e até privatização, o Estado continuou a ter um papel significativo na definição de objetivos e políticas."

CLIENTELISMO - "Obviamente que a intervenção clientelística tradicional desapareceu totalmente, por exemplo, nas empresas de telefonia, onde antes isso era rotina dos partidos. Eram cento e tantos diretores."

MASTODONTE SOCIAL - "A Constituição brasileira mandava descentralizar. O Estado era mastodôntico. Era grande, incompetente e mole. Não tinha capacidade efetiva de atuar. Foi preciso descentralizar a educação e a saúde".

MST - "Ao se democratizar, naturalmente o que houve foi uma maior porosidade do Estado para poder dialogar com essas múltiplas formas de organizações não-governamentais e movimentos sociais, inclusive os mais agressivos, como é o MST, que, vez por outra, além de invadir a fazenda do presidente, vem ao gabinete do presidente para conversar com ele. O que é uma coisa positiva, mesmo que venham depois sair lá fora e falar mal, tudo errado."

TURBULÊNCIA VAI FICAR - "É muita turbulência. Só que essa turbulência, pelo o que eu tenho visto pelo que tenho lido nos jornais que os senhores têm dito aqui, parece que vai ficar. Parece que não é uma turbulência passageira, é uma turbulência que ameaça continuar por muito tempo, sabe Deus quanto."

ELEIÇÕES - "Não há uma situação de mal-estar social. De vez em quando se vê que há, mas não é uma coisa sensível do ponto de vista político. Quando se vê a discussão da campanha eleitoral, se fala de temas abstratos. E aí se faz uma luta simbólica: quem vai gerar mais empregos e não sei o que. Mas não se está tocando em alguma coisa que seja uma chaga aberta, porque essa chaga existe, mas não está aparecendo."


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