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Petistas divergem sobre tratado nuclear
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Quatro anos após a adesão ao
Tratado de Não-Proliferação Nuclear, o PT diverge em relação à
participação do Brasil no acordo.
Para o deputado federal do PT,
o ambientalista Fernando Gabeira (RJ), o fato de o Brasil ter assinado o tratado põe o país entre as
nações promovedoras da paz e da
exploração pacífica da energia.
"Não interessa ao Brasil desenvolver essa tecnologia. Não tem
armas nucleares porque fez uma
opção. Desenvolvê-las é fugir do
centro da política externa, que é a
defesa da paz", disse Gabeira após
o presidenciável do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, ter dito que o
tratado não permitia que o Brasil
produzisse nem "estilingues".
Na avaliação do físico Luiz Pinguelli Rosa, um dos principais colaboradores do PT na área de
energia, o tratado deve ser revisto.
"Ele é assimétrico. Dá a alguns
países armados o direito de continuarem assim, e outros, que não
têm armas, têm de se comprometer a não desenvolvê-las", disse.
Para ele, apoiar uma mudança no
acordo não significa defender a
produção de armas nucleares.
Os argumentos a favor do tratado baseiam-se no fato de ele promover a paz mundial e prever o
desarmamento, ainda que de forma genérica, das nações que utilizam a energia nuclear para fins
militares. Do outro lado, estão
aqueles que sustentam que o tratado contraria o princípio de
igualdade por dividir as nações
entre as militarmente nucleares e
as militarmente não-nucleares.
Isso porque, ao ser criado, em
1968, havia cinco países que já tinham desenvolvido tecnologia
armamentista nuclear: os Estados
Unidos, a então União Soviética, a
França, a China e o Reino Unido.
Segundo o documento, as nações nucleares selavam um compromisso de desarmamento "geral e completo" sob controle internacional por meio de inspeções. O tratado estabelecia duas
categorias para os Estados signatários: os militarmente nucleares
e os militarmente não-nucleares.
A obrigação dos primeiros era
não transferir armas nucleares
para os outros, que, por sua vez, se
comprometiam a não desenvolvê-las. O Brasil assinou o acordo
em 1998. Índia, Paquistão, Israel
(que já desenvolveram armas nucleares) e Cuba não o assinaram.
Governo
Reservadamente, o governo
brasileiro também admite que o
tratado é injusto, mas defende
que ele deve ser modificado em
negociações internas. O Brasil,
que foi um dos últimos países a
assinarem o documento, manteve
tradicionalmente uma posição
crítica em relação ao acordo.
Como exemplo, é frequentemente citado o artigo 6º do tratado, em que está previsto, de forma
evasiva, o desarmamento das cinco nações militarmente nucleares.
Em 1998, houve uma união dos
países que se comprometem com
o uso exclusivo da energia nuclear
para fins pacíficos, que foi chamada de Coalizão da Nova Agenda,
da qual o Brasil faz parte. Representantes das nações que a compõem reuniram-se ontem em Nova York e reiteraram, por meio de
nota, que "o desarmamento nuclear e a universalização do regime do tratado são objetivos centrais que deverão continuar a nortear a atuação da Nova Agenda".
A avaliação desses países, entre
eles a Suécia e o México, é que
pouco foi feito pelas potências nucleares para implementarem o
desarmamento desde a Conferência de Exame de 2000 do Tratado
de Não-Proliferação Nuclear.
Para o ex-secretário de Ciência e
Tecnologia do governo de Fernando Collor, José Goldemberg,
responsável pela assinatura do
tratado de não-opção por armas
nucleares entre o Brasil e a Argentina, em 1991, o acordo deu passos
em direção ao desarmamento.
"Graças ao tratado de não-proliferação há hoje uma desnuclearização do mundo", disse Goldemberg, secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
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