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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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REFORMA MINISTERIAL

Presidente teria facilidade para mexer nas duas pastas porque atuais titulares fazem parte da "cota Lula"

PMDB pode herdar Comunicações e Cidades

KENNEDY ALENCAR
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de ainda não ter uma decisão madura sobre a reforma ministerial que pretende realizar na virada de outubro para novembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estuda oferecer ao PMDB duas pastas: Comunicações, hoje chefiada por Miro Teixeira (PDT-RJ), e Cidades, ocupada por seu amigo Olívio Dutra (PT-RS).
Esse foi o cenário aventado por Lula em conversas reservadas no meio da semana. Um auxiliar do presidente disse à Folha que ele tem falado pouco do assunto porque ainda reflete sobre as mudanças, mas que a oferta de Comunicações e Cidades ao PMDB seria a preferida no momento.
Motivo: seriam as duas pastas em que teria maior facilidade para tirar os ministros, seja por menor desgaste político, seja por amizade com os dois titulares. Seriam ministros da "cota Lula".
O Ministério das Cidades, que teve o Orçamento reforçado de 2003 para 2004 (passou de R$ 393 milhões para R$ 550 milhões por ano), seria tirado da cota petista e dado ao PMDB. Como é amigo de Lula, Dutra atenderia a um apelo para abrir mão do posto por necessidade de composição política. O PDT de Miro "está na oposição", segundo palavras do ministro José Dirceu (Casa Civil). O partido tem uma pasta forte e não retribui no Congresso. Lula gostaria que Miro fosse para o PSB e se deslocasse para a pasta da Ciência e Tecnologia, hoje com Roberto Amaral. O PSB aceita.
Outra possibilidade seria oferecer a Ciência e Tecnologia para o PMDB, mas a pasta é vista pelo partido como menos poderosa do que as Comunicações. Só a pasta das Comunicações tem neste ano um orçamento de R$ 447 milhões. Para 2004, a previsão é de R$ 500 milhões -sem contar os Correios, que têm receita própria.
Apesar de ter seus preferidos, Lula sabe que não pode impor nomes ao PMDB. Deverá escolher os ministros de listas enviadas pelas bancadas do Congresso a ele.
Entre os deputados, está certo que o ministeriável é o líder do partido na Câmara, Eunício Oliveira (CE), que cobiça as Comunicações. A ida dele para o ministério abriria caminho para o deputado federal Michel Temer (PMDB-SP) assumir o posto de líder na Câmara. A mudança desencadearia a negociação para sua sucessão na presidência do PMDB, cobiçada pelo ex-governador paulista Orestes Quércia, hoje aliado de Lula no partido.
Já especulou-se em Brasília sobre a possibilidade de Ciro Gomes (Integração Nacional) tomar o posto de Guido Mantega no Planejamento. É pouco provável. Apesar de Lula gostar de Ciro e de elogiá-lo, há resistência do chamado "núcleo duro" do governo, o grupo de ministros petistas mais próximos de Lula, a dar um posto tão estratégico a Ciro.
A saída de Anderson Adauto (PL) dos Transportes é dada como certa no Palácio do Planalto. O substituto viria do seu próprio partido, Alfredo Nascimento, prefeito de Manaus (AM), que deixaria o mandato.
A área social é a maior candidata a enxugamento no ministério. No entanto, Lula avalia a possibilidade de manter Benedita da Silva na pasta da Assistência e Promoção Social. Ela chorou quando soube pelos jornais que poderia vir a ser designada para uma embaixada. Já José Graziano (Combate à Fome e Segurança Alimentar), gestor do Fome Zero, poderia perder o status de ministro e coordenar uma secretaria específica do programa.
Lula manifesta a intenção de manter a Saúde e a Educação sob controle petista. Cristovam Buarque (Educação), que pediu desculpas a Lula por declarações recentes, tenta se segurar no posto.



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