São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2008

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Eleições 2008 / Dossiê Câmara

"Bancada dos figurões" inflaciona campanha à Câmara paulistana

Vereadores mais antigos elevam gastos da eleição e investem em redutos da cidade para preservar suas vagas no Legislativo

Em 2004, cada voto obtido pelos vereadores custou, em média, R$ 3,4; para as eleições deste ano, o valor já está em R$ 3,8 por eleitor

DA REPORTAGEM LOCAL EM SÃO PAULO DO PAINEL

Manter o cargo na Câmara de São Paulo está mais caro. Um mês antes do dia da eleição, o investimento dos vereadores em suas campanhas já era 22% maior do que o montante gasto em 2004. A média é puxada pelos "figurões" do Legislativo municipal, que estão na Casa há anos, comandam "bancadas" sem lógica partidária e investem em bolsões específicos da cidade a fim de garantir seus assentos por mais quatro anos.
Em 2004, os eleitos declararam ter arrecadado R$ 10,4 milhões em toda a campanha, em valores atualizados. Dividindo-se essa quantia pelo número de votos que obtiveram, chega-se à constatação de que, em média, cada voto custou R$ 3,4.
Até agora, os 52 vereadores que tentam reeleição afirmaram à Justiça Eleitoral terem reunido R$ 12,8 milhões.
Esse valor, dividido pelo número estimado de votos para a reeleição, já mostra um custo médio maior: R$ 3,8 por eleitor.
Atrás do quarto mandato, o vereador Milton Leite (DEM), é o campeão de arrecadação até agora. Já soma R$ 1 milhão em receitas. O dinheiro é gasto principalmente na zona sul. Em 2004, ele declarou gastos de R$ 331,6 mil, uma média de R$ 5,23 por voto conquistado.
Leite é um dos ícones do "centrão", grupo de vereadores formado na gestão da ex-prefeita petista Marta Suplicy (2001-2004) para aumentar o poder de barganha no Executivo -são cerca de 20 dos 55 vereadores. Hoje, eles dão sustentação ao prefeito Gilberto Kassab (DEM) na Câmara.
A abundância de recursos e a possibilidade de capitalizar para si obras do Executivo, principalmente na área da habitação, têm levado Leite a extrapolar suas fronteiras nestas eleições.
Historicamente, o vereador concentra votos em M'Boi Mirim. Agora no DEM -antes era do PMDB-, expandiu seu território de ação para a Capela do Socorro, também na zona sul.
O movimento está dando dor de cabeça ao "figurão" do bairro, o vereador Arselino Tatto (PT), que busca o sexto mandato também baseado no investimento em bolsões. A forte presença do petista e de sua família fez com que a Capela do Socorro ficasse conhecida no meio político como "Tattolândia".
Também ícone do "centrão", o presidente da Câmara, Antonio Carlos Rodrigues (PR), é outro que vem puxando a média de gastos para cima. Já arrecadou R$ 570,4 mil, diante dos R$ 317 mil de quatro anos atrás.
Rodrigues usa a mesma tática de concentrar esforços numa área específica -se define como um vereador "distrital". Sua atuação se concentra em Campo Limpo, na zona sul.
As outras regiões também são "loteadas" entre os vereadores. Na zona norte, com foco em Perus e Pirituba, quem mais investe é o tucano Claudinho. Já Wadih Mutran (PP) é conhecido como o "rei da Vila Maria". A lógica se repete até em bairros de classe média da zona oeste, como a Lapa, onde Roberto Tripoli (PV) investe pesado. (CONRADO CORSALETTE, RANIER BRAGON E SILVIO NAVARRO)



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