São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2008

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Eleições 2008 / Dossiê Câmara

Família Tatto consolida feudo e alavanca Marta na zona sul

Petistas chegam a bater 60% dos votos válidos na região conhecida como Tattolândia

Adversários da família Tatto falam em abuso do poder econômico; irmãos negam acusação e dizem que fazem trabalho contínuo na região

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

É um sábado de intensa atividade de campanha e a candidata Marta Suplicy (PT) tem caminhadas previstas em quatro pontos na zona sul de São Paulo. Na Vila Aimorés, após passar por lojas e padarias, Marta vê se materializar na sua frente um microfone e uma picape carregada com um aparelho de som na carroceria. Está pronto o comício. Ao lado do vice, Aldo Rebelo (PC do B), fala para cerca de 200 pessoas.
Meia hora depois e a cinco quilômetros distante dali, a petista parece andar sem destino. Ao virar uma esquina, porém, a espera um pequeno palanque com uma potente aparelhagem de som. Segue novo discurso, desta vez ao lado do ministro Tarso Genro (Justiça).
O fato em comum entre a picape e o palanque é a família Tatto. Nos dois casos, a estrutura foi providenciada pela equipe do vereador Arselino (PT), 53, candidato à sexta reeleição consecutiva na Câmara Municipal. Os dez irmãos Tatto, todos filiados ao PT, movimentam uma campanha rica, dinâmica e bem fornida de bandeiras, panfletos e carros de som. A cada visita a bairros do extremo sul, onde atinge 53% das intenções de voto, Marta é seguida por dezenas de militantes com bandeiras do partido.
Segundo a última pesquisa Datafolha, seus adversários Geraldo Alckmin (PSDB) e Gilberto Kassab (DEM) estão empatados com só 16% na região.

Sufocamento
Os políticos adversários do PT falam em abuso do poder econômico. "Eles estão nos sufocando. Para cada Kombi nossa, há 50 das deles", disse um candidato a vereador, cujo nome não quis ver publicado.
Arselino diz que, ao contrário, a região está sofrendo "não uma invasão, mas uma enxurrada" de candidatos que nunca atuaram ali. Pelo menos 20 novos nomes circulam com cabos eleitorais em peruas e vans. "Nunca se viu isso por aqui. Mas eu sou contra as milícias, todo mundo tem o direito de ir e vir. Deixa eles pedirem votos", ironizou Arselino.
O vereador afirmou que sua campanha eleitoral tem apenas "quatro ou cinco carros de som" ("Não tenho muito controle disso porque tem toda uma coordenação").
Arselino nega abusos e diz que se vale do apoio voluntário de "2.000, 2.500" dos 4.000 filiados ao PT na vasta (cerca de 134 quilômetros quadrados, do rio Pinheiros à Marsilac, no extremo sul da zona sul), pobre (89 mil pessoas moram em favelas) e populosa (645 mil pessoas só nos distritos de Socorro, Cidade Dutra e Grajaú) região conhecida como Capela do Socorro, na zona sul. A subprefeitura que recebe este nome está em último lugar na distribuição do Orçamento municipal.
Com as eleições de Arselino (vereador), Jilmar (deputado federal) e Ênio (deputado estadual), "Tattolândia" foi o apelido que melhor coube à região, onde candidatos do PT chegam a bater até 60% dos votos válidos. Arselino diz que não se incomoda mais com o apelido. "No passado ficava irritado. Hoje não me importo mais."
Ele diz que procura fazer "um trabalho permanente", voltar à região para falar com os eleitores ao longo de todo o ano. "Não tem mistério, a gente não faz nenhum trabalho assim assistencialista, tenho nojo dessas coisas. É uma região extremamente politizada", disse Arselino. "Domingo retrasado eu fiz 19 bairros."
A família Tatto veio do Rio Grande do Sul e do Paraná para a zona sul de São Paulo entre 1968 e o começo dos anos 70. Arselino, em 1972. Os dez irmãos vivem na mesma região. O vereador diz que sua "principal influência política" é Jesus Cristo. Seguido do líder comunista Lênin (1870-1924), com cujo nome batizou um filho.


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