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Eleições 2008 / Dossiê Câmara
Família Tatto consolida feudo e alavanca Marta na zona sul
Petistas chegam a bater 60% dos votos válidos na região conhecida como Tattolândia
Adversários da família Tatto falam em abuso do poder econômico; irmãos negam acusação e dizem que fazem trabalho contínuo na região
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
É um sábado de intensa atividade de campanha e a candidata Marta Suplicy (PT) tem caminhadas previstas em quatro
pontos na zona sul de São Paulo. Na Vila Aimorés, após passar
por lojas e padarias, Marta vê se
materializar na sua frente um
microfone e uma picape carregada com um aparelho de som
na carroceria. Está pronto o comício. Ao lado do vice, Aldo Rebelo (PC do B), fala para cerca
de 200 pessoas.
Meia hora depois e a cinco
quilômetros distante dali, a petista parece andar sem destino.
Ao virar uma esquina, porém, a
espera um pequeno palanque
com uma potente aparelhagem
de som. Segue novo discurso,
desta vez ao lado do ministro
Tarso Genro (Justiça).
O fato em comum entre a picape e o palanque é a família
Tatto. Nos dois casos, a estrutura foi providenciada pela equipe do vereador Arselino (PT),
53, candidato à sexta reeleição
consecutiva na Câmara Municipal. Os dez irmãos Tatto, todos filiados ao PT, movimentam uma campanha rica, dinâmica e bem fornida de bandeiras, panfletos e carros de som.
A cada visita a bairros do extremo sul, onde atinge 53% das intenções de voto, Marta é seguida por dezenas de militantes
com bandeiras do partido.
Segundo a última pesquisa
Datafolha, seus adversários Geraldo Alckmin (PSDB) e Gilberto Kassab (DEM) estão empatados com só 16% na região.
Sufocamento
Os políticos adversários do
PT falam em abuso do poder
econômico. "Eles estão nos sufocando. Para cada Kombi nossa, há 50 das deles", disse um
candidato a vereador, cujo nome não quis ver publicado.
Arselino diz que, ao contrário, a região está sofrendo "não
uma invasão, mas uma enxurrada" de candidatos que nunca
atuaram ali. Pelo menos 20 novos nomes circulam com cabos
eleitorais em peruas e vans.
"Nunca se viu isso por aqui.
Mas eu sou contra as milícias,
todo mundo tem o direito de ir
e vir. Deixa eles pedirem votos", ironizou Arselino.
O vereador afirmou que sua
campanha eleitoral tem apenas
"quatro ou cinco carros de
som" ("Não tenho muito controle disso porque tem toda
uma coordenação").
Arselino nega abusos e diz
que se vale do apoio voluntário
de "2.000, 2.500" dos 4.000 filiados ao PT na vasta (cerca de
134 quilômetros quadrados, do
rio Pinheiros à Marsilac, no extremo sul da zona sul), pobre
(89 mil pessoas moram em favelas) e populosa (645 mil pessoas só nos distritos de Socorro,
Cidade Dutra e Grajaú) região
conhecida como Capela do Socorro, na zona sul. A subprefeitura que recebe este nome está
em último lugar na distribuição
do Orçamento municipal.
Com as eleições de Arselino
(vereador), Jilmar (deputado
federal) e Ênio (deputado estadual), "Tattolândia" foi o apelido que melhor coube à região,
onde candidatos do PT chegam
a bater até 60% dos votos válidos. Arselino diz que não se incomoda mais com o apelido.
"No passado ficava irritado.
Hoje não me importo mais."
Ele diz que procura fazer
"um trabalho permanente",
voltar à região para falar com os
eleitores ao longo de todo o
ano. "Não tem mistério, a gente
não faz nenhum trabalho assim
assistencialista, tenho nojo
dessas coisas. É uma região extremamente politizada", disse
Arselino. "Domingo retrasado
eu fiz 19 bairros."
A família Tatto veio do Rio
Grande do Sul e do Paraná para
a zona sul de São Paulo entre
1968 e o começo dos anos 70.
Arselino, em 1972. Os dez irmãos vivem na mesma região.
O vereador diz que sua "principal influência política" é Jesus
Cristo. Seguido do líder comunista Lênin (1870-1924), com
cujo nome batizou um filho.
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