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PF comprou de firma de amigo do diretor-geral
Dígitro ganhou R$ 50 mi com venda de sistema de escutas e investigação a 12 Estados, ao DF, à ONU e a empresas
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FLORIANÓPOLIS
A empresa de um amigo do
diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, ganhou cerca de R$ 50 milhões de
2002 a 2007 com a venda de
tecnologia de informação e serviços de escutas telefônicas a
órgãos públicos brasileiros e
empresas privadas. Todos os
contratos foram intermediados
pela Senasp, órgão do Ministério da Justiça comandado por
Corrêa de 2003 a 2007.
A empresa é a Dígitro, presidida por Geraldo Faraco. Segundo a PF, Corrêa mantém
um "bom relacionamento" com
o empresário, "fruto de uma
convivência profissional de
mais de 15 anos".
Entre 2002 e 2007, a Dígitro
faturou um total de R$ 60 milhões com venda de equipamento de segurança. Nesse período, vendeu a 12 Estados, ao
DF, à ONU e a empresas privadas a plataforma Guardião, que
registra áudio de ligações interceptadas, monta redes de relacionamento de investigados e
transcreve gravações.
A Dígitro desenvolveu o
Guardião em parceria informal
com a PF em Santa Catarina e
passou a fornecer o equipamento para superintendências
e órgãos de segurança dos Estados. Ao assumir o cargo, em
2007, Corrêa foi apresentado
como membro da equipe que
ajudou a desenvolver o sistema.
A Folha teve acesso a contratos de venda do Guardião firmados pela Dígitro anexados a
um processo na Justiça do Trabalho de SC. Nele, o procurador da Fazenda licenciado Hugo César Hoeschl, 41, reivindica direitos autorais sobre dois
softwares desenvolvidos por
sua equipe usados no sistema.
Hoeschl disse à Folha que
Faraco se vangloriava da amizade com Corrêa e dizia que
Corrêa passou férias em janeiro de 2005 e 2006 em seu apartamento em Florianópolis (SC)
-o que Faraco e Corrêa negam.
Entre os documentos está o
contrato de R$ 161 milhões entre o Ministério da Justiça e a
Motorola para fornecimento
de infraestrutura de Tecnologia da Informação e Comunicação e equipamentos para os Jogos Pan Americanos do Rio, em
2007. A Motorola liderou o
consórcio de fornecedores, integrado pela Dígitro.
Hoeschl disse que Roberto
Prudêncio, diretor da Dígitro,
integrou a delegação brasileira
(chefiada por Corrêa) que foi à
Bélgica e a Israel em 2006 para
conhecer sistemas de informação e segurança, visando o Pan
2007. A PF disse que o encontro com Prudêncio foi casual.
Segundo os contratos, 12 Estados (RJ, RS, SC, MT, CE, PE,
MG, SP, ES, PR, TO e PA), o DF,
quatro superintendências da
PF (SC, PR, SP e RJ), a Procuradoria da República, o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento e uma seguradora compraram o Guardião,
por um total de R$ 49 milhões.
Em dois dos 25 contratos
houve licitação. A dispensa de
licitação e sigilo nos contratos
foram amparados na Lei das
Licitações. A Senasp e a Dígitro
afirmam que o Guardião é vendido só a "entes nacionais".
Colaborou SÍLVIA FREIRE, da Agência Folha
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