São Paulo, quarta-feira, 14 de outubro de 2009 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS A caravana passa
FARTO PEDAÇO do governo prevê sair em caravana hoje cedo, Lula à frente, para percorrer trechos do rio São Francisco nos estados de Minas, Bahia e Pernambuco. A previsão original é de pelo menos sete ministros presentes, mais assessores diversos, deputados, senadores e aderentes incontáveis pelo caminho afora, encabeçados pelos governadores e prefeitos da extensa região. No roteiro, palanques vários. Cada um deles é uma denúncia. Serão três dias de viagem e duas finalidades. Para efeito oficial, o objetivo é inspecionar as obras da mal denominada transposição do rio. Para defeito público, os palanques e a presença de Dilma Rousseff denunciam os numerosos comícios e sua motivação. Com interesse especial na baiana Barra, do bispo Luiz Flávio Cappio, objeto da precaução de retirá-lo da diocese por uns dias para não criar constrangimento, com sua extremada oposição à obra, ao chefe da caravana. Entre um ponto de comício e outro, reuniões já programadas com os governadores e outros políticos para buscar conciliá-los, em suas disputas locais e nas divergências partidárias, de modo a se eliminarem arestas prejudiciais à ação eleitoral por Dilma Rousseff. É o governo em ação. Muito mais ação que a do Tribunal Superior Eleitoral e do Ministério Público idem. Em nome da paz A concessão do Nobel da Paz a Barack Obama produziu um debate público que, se tem precedente, está perdido no tempo. É possível que todas as explicações para a concessão, das mais simplórias às mais sofisticadas, estejam todas presentes e certas nas razões suscitadas em favor de Obama. A crítica à falta de resultados justificadores, porém, atende a outra ordem de considerações. Pode ser proveitoso lembrar que Itzak Rabin e Iasser Arafat também foram premiados por uma paz que jamais fizeram, e mal prometiam procurá-la de fato. Enquanto considerava, com Nixon, crimes de guerra cada vez maiores contra civis do Vietnã do Norte, do Laos e do Camboja, Henry Kissinger recebeu o prêmio pelas "conversações de paz", em Paris, com o representante norte-vietnamita Le Duc Tôt, com quem dividiu o Nobel. Mas não pôde dividir o resultado da guerra com os vitoriosos vietnamitas. Agromorte A entrevista de João Pedro Stedile a Eduardo Scolese (Folha, 12.out) chamou atenção por tratar do acusado "vandalismo" do MST. A meu ver, este outro trecho, muito ligeiro dadas as circunstâncias, é um dos retratos perfeitos do caráter de incúria gananciosa predominante no Brasil: "Usar 713 milhões de litros de venenos agrícolas por ano, que degradam o meio ambiente, também é vandalismo". E nos envenenam a todos, não só ao meio ambiente, em um genocídio lento e doentio, que nos é servido em nossa própria mesa. Sem reação de ninguém. Texto Anterior: Saiba mais: Governo teve obstáculos para tocar projeto Próximo Texto: Lula leva Dilma e Ciro para vistoriar obras Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |