|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REVISÃO SOCIAL
Documento critica deduções no IR e financiamento a universidades
Relatório da Fazenda propõe mudanças nos gastos sociais
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério da Fazenda divulgou ontem o roteiro para uma
ampla reforma no gasto social do
Brasil, cujos alvos principais são o
financiamento das universidades
federais e as deduções dos gastos
com educação e saúde no Imposto de Renda da Pessoa Física.
A justificativa é que essas são
formas de os mais ricos se apropriarem de uma grande fatia dos
gastos públicos na área social.
"Reduzir privilégios", eis o lema
da reforma. O documento de 47
páginas intitulado "Gasto Social
do Governo Central" defende que
a reforma não é só o único meio
de construir no país uma rede de
proteção social capaz de distribuir
renda e combater a pobreza.
Num trecho em que a Fazenda
compara a carga de impostos cobrados no Brasil com a de outros
países, o documento torna claras
outras intenções: "A possibilidade de o governo reduzir a carga
tributária ou mesmo de mantê-la
no atual patamar, sem comprometer o ajuste fiscal e a estabilidade da economia, depende fortemente de sua capacidade de reformar o gasto social, reduzindo a
proteção exagerada que atualmente provê para um pequeno
segmento da sociedade".
O diagnóstico assinado pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, pelo secretário de Política
Econômica, Marcos Lisboa, e por
mais oito assessores da pasta é o
mesmo feito pelo Banco Mundial
desde o início do governo Fernando Henrique Cardoso.
Em linhas gerais, a conclusão é
que gasta-se muito na área social
no Brasil, mas que boa parte do
dinheiro acaba sendo apropriada
pelos brasileiros mais ricos.
O maior dos vilões dessa distorção são os gastos com a aposentadoria dos funcionários públicos,
alvo da reforma encaminhada ao
Congresso pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Depois da reforma previdenciária, restam os seguintes focos de
distorção do gasto social detalhados no documento da Fazenda:
1) Universidades federais: o ministério afirma que cerca de 46%
dos recursos do governo para o
ensino superior beneficiam "apenas indivíduos que se encontram
entre os 10% mais ricos da população". O texto defende a expansão dos empréstimos a estudantes
de baixa renda que frequentam
cursos privados. No projeto de
Orçamento para 2004, o governo
já dá um passo nessa direção;
2) Imposto de Renda da classe
média: ainda na área de educação,
o documento ataca os incentivos
fiscais, que representarão R$ 1,1
bilhão no Orçamento do ano que
vem. O incentivo mais caro são as
deduções de gastos com instrução
no Imposto de Renda: ele beneficia somente as famílias de classe
média e alta que mantêm os filhos
em escolas particulares;
3) Saúde privada: mais caras
que as deduções dos gastos com
instrução são os abatimentos das
despesas com saúde no Imposto
de Renda, outro alvo da reforma
pregada pela Fazenda. O incentivo fiscal deverá consumir R$ 1,7
bilhão, segundo previsão do Orçamento, e beneficia aqueles que
ganham mais e que recorrem à rede privada de saúde. "Ressalte-se
que essas renúncias possuem caráter regressivo, pois beneficiam
os extratos sociais de maior poder
aquisitivo", diz o documento.
Os três pontos listados acima
constam dos documentos do
Banco Mundial com "contribuições" para a agenda do governo
Lula. A única sugestão polêmica
não incorporada pela Fazenda é a
redução da multa de 40% do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, cobrada das empresas para
os trabalhadores que são demitidos sem justa causa.
Elogio ao Bolsa-Família
Na análise dos programas de
transferência de renda aos mais
pobres, o documento da Fazenda
reserva um auto-elogio à recente
unificação promovida pelo governo Lula por meio da Bolsa-Família. O trecho critica o modelo adotado nos dois últimos anos de
mandato de FHC. "Em torno de
17% dos domicílios brasileiros
permanecem pobres", registra o
texto, considerando pobres as famílias com renda de até meio salário mínimo por pessoa, valor
superior ao usado para classificar
os pobres pelo Bolsa-Família.
A íntegra do documento encontra-se no
site: www.fazenda.gov.br
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Cristovam rejeita fim de ensino superior gratuito Índice
|